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  As FARC são o maior grupo rebelde da Colômbia
 

História do conflito
Segunda-feira, 14 de Janeiro de 2002

As primeiras guerrilhas esquerdistas surgiram durante os anos 60. Na Presidência estava Guillermo León Valencia, do Partido Conservador (formação que tem dividido ao longo da história da Colômbia o poder com o Partido Liberal), que estava a braços com uma grave crise económica.

O primeiro grupo a ser fundado foi o Exército de Libertação Nacional, em 1964, sob influência da revolução cubana (1958) e seguindo os ensinamentos expostos por Che Guevara.

No mesmo ano são criadas as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), mais ligadas aos movimentos de influência soviética, impulsionadas pelo Partido Comunista colombiano. O movimento implanta-se em oito províncias do país.

O crescimento das FARC ocorre no final dos anos 70 e início dos anos 80, altura em que passa a obter uma parte substancial do seu financiamento do florescente negócio da droga. A outra parte consegue-o através da prática sistemática de raptos. As FARC são actualmente o maior grupo guerrilheiro, com cerca de 20 mil homens.

O ELN, que começa a operar em 1965, recorre por seu turno ao "imposto de guerra" para financiar grande parte das suas actividades, cobrado às companhias petrolíferas que operam na região. O sequestro contra resgate é igualmente utilizado pelo ELN para obter receitas.

Na viragem dos anos 70 para os anos 80, a Colômbia está em plena transformação social, política e económica. Apesar da acção das guerrilhas, a economia colombiana cresce durante a década de 70 mas a distribuição da riqueza é extremamente desigual.

Nos anos 80 assiste-se à escalada do conflito, que acompanha de perto o florescimento do negócio da droga. A Colômbia torna-se no principal alimentador do consumo de droga (marijuana, cocaína e heroína) nos Estados Unidos. Os principais centros deste negócio são os cartéis de Medellin, liderado por Pablo Escobar, e Cali.

Em 1982, o Presidente Betancur (conservador) fez uma tentativa de acabar com a violência das guerrilhas e inicia conversações com as FARC e com o M-19 (um pequeno grupo criado em 1970 para protestar contra as eleições que privaram da vitória o antigo ditador Gustavo Rojas Pinilla). Um acordo de cessar-fogo é assinado e entra em vigor em 1984. O poder lança uma série de reformas políticas, económicas e sociais e estabelece o prazo de uma ano para que as FARC se organizem politicamente.

Paralelamente, aumenta significativamente o número de grupos de autodefesa, organizações paramilitares criadas em muitos casos por iniciativa de grandes proprietários e barões da droga, como tentativa de se protegerem das guerrilhas. O Exército colombiano é acusado de treinar e equipar estes grupos, que em 1986 já foram responsáveis por mais mortes do qualquer grupo guerrilheiro esquerdista.

Em 1985, as FARC criam a União Patriótica (UP), no quadro do acordo assinado com o Presidente Betancur. Este partido participa nas eleições de 1986, elegendo 350 conselheiros municipais, 26 deputados e seis senadores para o Congresso. Uma vaga de assassinatos sem paralelo mata cerca de quatro mil dirigentes, quadros e militantes da UP (e do Partido Comunista), pondo fim à experiência política das FARC.

No final da década de 80, o fracasso das negociações de paz é evidente. Os grupo de guerrilha intensificam as suas acções, os paramilitares matam mais do que nunca e os grupos ligados à droga, em particular os de Medellin, lançam igualmente mão do terror, para assim ganharem maior margem negocial com o Governo. O ano mais negro do conflito colombiano é 1989, com um número recorde de assassínios.

Na campanha presidencial de 1990, três candidatos, incluindo o favorito, o liberal Luis Carlos Galán, são assassinados, juntamente com centenas de pessoas. A responsabilidade do massacre recai sobre os traficantes de droga, que protestavam contra uma política mais rígida quanto ao combate ao tráfico de droga. A eleição acaba, contudo, por se realizar pacificamente, vencendo o candidato liberal César Gaviria, defensor de medidas severas contra o narcotráfico.

Durante o mandato de Gaviria a violência e a persistente violação dos direitos humanos levou por diversas vezes a negociações com as FARC e o ELN, mas fracassaram sempre.

A sua governação ficou ainda marcada pela detenção do mais célebre dos barões da droga colombiana, Pablo Escobar. Este, porém, viria a escapar da prisão ao fim de 13 meses, mas acabou por abatido pouco tempo depois pelas forças governamentais.

A nível político, ocorreram importantes alterações, sobretudo no quadro constitucional, destacando-se a limitação para os presidentes de não poderem ocupar o cargo por mais de um mandato (quatro anos).

Em 1994, Ernesto Samper, também liberal, sucedeu a Gaviria. A possibilidade de negociar a paz com Samper foi comprometida logo desde o início, devido às acusações de financiamento da sua campanha com dinheiro da droga, perdendo a legitimidade aos olhos dos guerrilheiros.

Durante os anos de Samper (1994-1998), a violência continua a grassar, e os paramilitares de extrema-direita agrupam-se numa único grupo, AUF (Autodefesas Unidas da Colômbia), liderado por Carlos Castaño.

Desde as sua chegada ao poder em 1998, Andres Pastrana (o actual Presidente) encetou uma negociação sem precedentes com o maior grupo de guerrilha do país, as FARC. Apesar dos passos dados, nomeadamente a criação de uma controversa zona desmilitarizada (do tamanho da Suíça), no estado do Sul de Caquetá, para servir de base para o diálogo, o desfecho para o processo de paz não é animador, com muitos a vaticinarem o seu colapso para o início deste ano.

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