Colômbia: 38 anos de
luta armada
Por Tiago Tibúrcio
Segunda-feira, 14 de Janeiro de 2002
A Colômbia entrou em 2002 no 38º
ano de um conflito armado que já fez milhares de mortos
e que transformou o país num lugar onde viver é
insustentável, para a generalidade dos colombianos.
O motor deste conflito é a luta pelo poder, do Estado
e do lucrativo negócio da droga, que tem oposto grupos
de guerrilheiros esquerdistas às forças governamentais
e a grupos de extrema-direita na dependência de latifundiários
e barões da droga. Em Janeiro vai tentar salvar-se
o processo de paz iniciado em 1998 pelo actual Presidente,
Andres Pastrana, mas o pessimismo é a nota dominante.
Na base do conflito que atinge a Colômbia há
quase quatro décadas está uma sociedade altamente
estratificada, onde os privilégios tocam uma pequena
minoria de famílias descendentes dos colonos espanhóis.
A devastadora maioria dos colombianos, sobretudo mestiços,
vive na pobreza. Este foi o cenário que motivou o surgimento,
nos anos 60, de guerrilhas de esquerda, as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC,
actualmente o maior grupo) e o Exército de Libertação
Nacional (ELN).
A situação agravou-se nos anos 70 e 80 com o
florescimento do negócio da droga e da acção
de grupos paramilitares de extrema-direita. Estes grupos (hoje
unificados nas AUC), a soldo de grandes latifundiários
e barões da droga para combater os rebeldes de esquerda,
são hoje os principais responsáveis pelas violações
dos direitos humanos no país, de acordo com relatórios
da ONU e de organizações humanitárias.
O Exército colombiano foi frequentemente conivente
com a acção destes grupos, tendo mesmo equipado
e treinado alguns deles.
Assassínios selectivos, raptos, extorsões e
ameaças à integridade física tornaram-se
realidades quotidianas na Colômbia. Estes crimes escondem
na sua maioria motivações políticas ou
relacionadas com o negócio da droga.
Das violações dos direitos humanos não
está isenta nenhuma das partes do conflito, onde os
civis são as principais vítimas, muitas vezes
por serem suspeitos de apoiar ou apenas simpatizar com o adversário.
A violência na Colômbia, que tem o mais alto índice
de sequestros do mundo e que na última década
matou cerca de 40 mil pessoas, levou a que milhões
de colombianos (principalmente quadros técnicos e superiores)
procurassem refúgio fora das suas fronteiras.
Pastrana dedicou uma parte do seu mandato, que termina em
Agosto, a tentar negociar a paz, elegendo as FARC
como principal interlocutor. Neste quadro, o Governo criou
uma zona desmilitarizada, na prática administrada pelas
FARC,
como contrapartida para os guerrilheiros se sentarem à
mesa de negociações. Quase quatro anos depois,
não há qualquer acordo que permita augurar para
breve o fim do conflito. Bem pelo contrário, as negociações
parecem ter chegado a um impasse e a generalidade dos analistas
já não acredita que se consiga um acordo antes
de Pastrana deixar o poder.
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