Brincar
às guerras
Vasco T. Menezes
Barry Levinson é, acima de tudo, um cineasta desigual.
Errático, tem sido capaz do melhor — projectos pessoais,
centrados na sua Baltimore natal, como o filme de estreia, “Diner” (1982), “Tin
Men” (1987) ou “Avalon” (1990) — e do pior — produtos “mainstream” sensaborões
como “Revelação (1994) ou “A Esfera” (1998), indistinguíveis
da rotina de tantos outros —, numa carreira que se pauta pelo
desequilíbrio evidente.
É nas crónicas de pequenos dramas humanos como
as referidas em primeiro lugar que o realizador deixa transparecer
os seus maiores talentos: uma segura direcção de
actores e um agudo sentido de época. Se nada disto está à vista
nos seus filmes mais comerciais é porque, em Levinson,
o resultado final depende muito (excessivamente, dir-se-ia) do
que lhe serve de base. Quando o ponto de partida é suficientemente
forte, as coisas funcionam bem. O pior é quando acontece
o contrário, pois Levinson parece ser incapaz de golpes
de asa que transfigurem o material com que trabalha. Não
espanta, por isso, que as suas melhores obras sejam as que o
próprio escreveu ou aquelas em que um argumento sem a
sua marca permite, no entanto, um envolvimento emocional por
parte do realizador.
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"Manobras
na Casa Branca" de
Barry Levinson
Vasco T.
Menezes
A menos de duas semanas das eleições
presidenciais, eclode um escândalo na Casa Branca: o Presidente
dos EUA é acusado
por uma adolescente (ainda por cima escuteira…) de “conduta sexual
indecorosa”, um “fait-divers” que poderá pôr em
xeque a sua reeleição, numa altura em que as sondagens
lhe dão uma confortável vantagem de 17%...
Para evitar o descalabro, é preciso abafar o caso e manter
a opinião pública “distraída” durante onze
dias. É então chamado de emergência Conrad
Brean (Robert De Niro), um consultor político da confiança
do Presidente. A solução encontrada é simples: “fabricar” uma
guerra “virtual” a que o chefe de estado americano possa depois
pôr cobro, rápida e heroicamente.
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