Em
Memória de Mikhail Bulgakov
Quarta-feira,
21 de Agosto de 2002, Por ANNA AKHMÁTOVA
É para ti, em vez das rosas tumulares,
em vez do fumo do incenso;
severamente viveste, até ao fim
guardaste
o magnífico desprezo.
Bebeste vinho, como ninguém gracejaste
e entre quatro paredes te abafavas,
sozinho deixaste entrar a visita terrível
e a só com ela ficaste.
Desapareceste e tudo em volta é
silêncio
que fala da vida sublime e amarga,
apenas minha voz soará como flauta
no teu banquete funerário.
Quem podia acreditar que eu, a louca,
a carpideira dos dias que morreram,
eu, que nas brasas lentas me ardo,
que a todos perdi, que esqueci tudo -
havia de dizer a missa daquele que,
pujante de forças, luz e vontade
clara,
parece que ainda ontem me falou
escondendo o tremor da sua dor mortal.
(tradução
de Nina Guerra e Filipe Guerra,
in "Só o Sangue Cheira a Sangue", Assírio
& Alvim, 2000)
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