Este livro deu um
filme
Por L.M.Q.
Quarta-feira, 04 de Dezembro de 2002
André Delvaux filmou os últimos
dias de Zenão
"L'Oeuvre au Noir", o filme que o
recém-falecido cineasta belga André Delvaux
(1926-2002) realizou a partir do romance de Marguerite Yourcenar,
estreou-se em 1988, poucos meses após a morte da romancista.
Yourcenar ainda assistiu às últimas rodagens,
mas já não pôde ver o resultado final.
É bem possível que tivesse apreciado esta obra
contida e um tanto sombria, com a sua bela fotografia dominada
por tons escuros.
Gian Maria Volonté interpreta Zenão,
Marie Christine Barrault desempenha o papel de sua mãe,
Hilzonda, Philippe Léotard veste a pele de Henri-Maximilien,
o primo e amigo do protagonista, dado aos versos, ao vinho
e à vida militar, e Anna Karina é a criada Catarina,
que, ressabiada por Zenão lhe recusar a cama, irá
concorrer para a sua perdição. O elenco conta
ainda, entre outros, com Samy Frei, Mathieu Carrière
e Maria-France Pisier.
Delvaux opta por centrar o seu filme na parte
final do livro, quando Zenão, já no fim da vida,
decide regressar a Bruges, a sua terra natal, utilizando o
nome falso de Sebastião Théus. No pano de fundo
de uma Holanda protestante submetida, pelo terror da Inquisição,
ao catolicismo da corte espanhola de Carlos V, Zenão,
médico e filósofo, estabelece uma clínica
para cuidar dos pobres. Inteirado de que um grupo de monges
leva a cabo orgias que envolvem uma jovem aristocrata, avisa-os
de que tenham cautela e procura persuadi-los a desistir de
tão perigosas actividades. Torturados, estes acabam
por envolvê-lo no processo e Zenão vê-se
acusado dos mais diversos crimes.
O filme foi nomeado para a Palma de Ouro do
Festival de Cannes e, em 1989, a associação
italiana de críticos de cinema concedeu a Gian Maria
Volonté a Fita de Prata para a melhor interpretação
do ano.
Antes de "A Obra ao Negro",
fora já adaptado ao cinema outro romance de Yourcenar,
"Golpe de Misericórdia" (1939), que inspirou
"Der Fangschuß", do realizador alemão
Völker Schlöndorff, estreado em 1977. Yourcenar
nunca criticou publicamente o filme, mas, na sua correspondência
privada, defendeu que este passava completamente ao lado do
livro.
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