O Homem que Via
Passar os Comboios
Georges Simenon



 

Georges Simenon Visto por Autores Portugueses
MARISA TORRES DA SILVA
Quarta-feira, 10 de Julho de 2002

A propósito da publicação do livro "O Homem que Via Passar os Comboios", o PÚBLICO falou com três autores portugueses - Ana Teresa Pereira, Dinis Machado e Agustina Bessa-Luís - para descobrir as suas visões sobre a obra do escritor belga

Ana Teresa Pereira
Com o livro "Matar a Imagem" (1989), Ana Teresa Pereira ganhou o Prémio Caminho Policial. Nos anos seguintes, publicou outras obras que se inserem no género policial, como "A Última História" (1991), "A Cidade Fantasma" (1993) ou "Num Lugar Solitário" (1996). Apesar de Georges Simenon não ser uma das suas grandes referências na escrita de policiais, referiu ao PÚBLICO que "O Homem que Via Passar os Comboios" foi um dos livros que mais gostou deste autor, uma obra que leu há já "largos anos". A escritora disse ainda que adorou o conto "Bem-Aventurados os Simples", igualmente de Simenon.

Dinis Machado
Em 1968, publicou três romances policiais - "Mão Direita do Diabo", "Requiem para D. Quixote" e "Mulher e Arma com Guitarra Espanhola", editados na colecção Rififi - sob o pseudónimo Dennis McShade, um trocadilho com o seu próprio nome. No que diz respeito a Georges Simenon, considera-o "um autor muito psicológico e um escritor desencantado", criador de uma atmosfera particular, dando conta da temperatura do sítio e das personagens. Dinis Machado referiu também a carga pessoal que Simenon imprime aos seus livros, detentores de uma narrativa muito sólida, bastante económica por um lado, "torrencial em determinados aspectos" por outro, como por exemplo nas divagações e nas complexidades que encerra ao abordar a "dificuldade do homem em acertar com as situações". "Cada personagem de Simenon é uma face sua", sublinhou. O escritor português recorda ainda um texto que publicou no "Jornal de Letras", na altura da morte de Simenon, em 1989, em que concluía com a seguinte frase: "Digo, às vezes, que um grande escritor é uma universidade da vida. E eu tive a felicidade, a honra e o proveito de frequentar a universidade de Simenon."

Agustina Bessa-Luís
Não é uma autora cuja obra se possa considerar como pertencente ao universo da literatura policial, mas referiu há bem pouco tempo, na mais recente edição da Feira do Livro de Lisboa, que os romancistas policiais são "os mais inteligentes". Contudo, os livros de Simenon que mais a fascinam são os que, precisamente, escapam a esse estilo, dando como exemplo "O Gato", obra também transposta para o cinema. A autora portuguesa define Simenon como um autor que aborda "o lado mais negro da natureza humana", explorando um mundo de certa forma oculto e sombrio. "O que define o policial é a ausência de tragédia. O escritor que introduz o sentido da tragédia já não pode ser considerado propriamente como policial", acrescentou.