O Doutor Jivago
Boris Pasternak





Prémio Nobel em 1958

 


Tiragem de 100 mil exemplares
"Doutor Jivago", de Boris Pasternak, amanhã
nas bancas

Terça-feira, 13 de Agosto de 2002, por Fernando Sousa

O 13º título da Colecção Mil Folhas, "Doutor Jivago", do escritor Boris Pasternak, é uma das mais belas histórias de amor da literatura contemporânea, em tempos conturbados

Se algum livro irritou realmente o estalinismo, ele foi "Doutor Jivago", uma história de amor no meio de paisagens nostálgicas e de um regime pouco dado a romantismos. A tal ponto que o autor, Boris Pasternak, acabou expulso das bibliotecas do país e tratado como um demónio na Grande Enciclopédia Soviética.

A acção, em jeito de saga, decorre entre 1905 e 1945, o que quer dizer que passa pelo czarismo, a I Guerra Mundial, a revolução bolchevique, a guerra civil contra os "brancos", o estalinismo, cenários da paixão de um homem (Jivago) casado com uma mulher (Tonia) e apaixonado por outra (Lara), entre os quais rodopia um escroque do aparelho (Komarovski) e um revolucionário mesquinho e medíocre (Pavel Antipov).

Publicado em 1957, em Itália, e traduzido para 25 idiomas, a obra foi considerada um produto pequeno-burguês, e o seu mentor, premiado no ano seguinte com o Nobel da Literatura, impedido de ir a Estocolmo receber o galardão: o autor "interpretou levianamente a Revolução de Outubro de 1917, as pessoas que a realizaram e a construção social da URSS", acusou a poderosa União dos Escritores.

Boris Leonidovitch Pasternak morreu no dia 30 de Maio de 1990 na sua casa de campo de Peredelkino, perto de Moscovo, a mesma onde escrevera, algures entre 1945 e 1956, a obra que a um só tempo o perdeu e imortalizou, doente e abatido pelo cerco que o regime lhe impôs.

"O meu pai sofreu muito. Vivia muito doente, tinha problemas cardíacos. Quando foi premiado com o Nobel, as autoridades pressionaram-me para que não fosse recebê-lo. Os seus amigos aconselharam-no a não aceitar, para não colocar a sua vida em risco. Depois disso, o Governo retirou-lhe a licença de tradutor, e ele perdeu o único meio de subsistência", disse o filho, Eugene Bórissovitch Pasternak, na cerimónia do Teatro Bolshoi, em Fevereiro de 1990, em que o pai foi reabilitado na presença de escritores de todo o mundo.

A paranóia persecutória chegou a tal ponto que um dia, estando a televisão soviética a transmitir em directo um campeonato de patinagem artística, e preparando-se o patinador para actuar ao som do célebre "Tema de Lara", composto pelo francês Maurice Jarre para o filme "Doutor Jivago", baseado na obra homónima, os censores cortaram o som deixando o artista a voltear no silêncio. "Foi um pouco cómico, mas sobretudo vergonhoso e triste", disse o poeta Eugeni Ievetuchenko, que contou a história num livro de homenagem ao escritor.