“Gato
Preto, Gato Branco”,
de Emir Kusturica
Por Vasco T. Menezes
Mafiosos e “gangsters”, cantoras obesas
que arrancam pregos com o ânus, porcos que comem automóveis,
comboios roubados estranhamente desaparecidos, casamentos intermináveis
e uma fanfarra suspensa numa árvore. São alguns dos
ingredientes de “Gato Preto, Gato Branco” (1998), caldeirão
efervescente preparado por Emir Kusturica, que a uns pozinhos de
burlesco junta uma pitada do mais puro delírio surrealista,
tudo misturado (e embalado) a um ritmo frenético.
Foi com esta farsa vibrante que o cineasta jugoslavo resolveu dar
continuidade à sua obra, até então feita de
alegorias políticas tragicómicas, visões satíricas
e excêntricas do pósguerra balcânico. Críticas
mordazes ao comunismo como “Lembras-te de Dolly Bell?”
(1981) e “O Pai Foi em Viagem de Negócios” (1985)
passaram em revista o último meio século de história
da Jugoslávia, num processo culminado no monumental “Underground”
(1995), comédia negra que retrata o lento e agonizante definhar
de um país até ao desmoronamento final.

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“Gato
Preto, Gato Branco”,
de Emir Kusturica
Por Vasco T. Menezes
Matko, pequeno vigarista, vive na penúria
(o pai, Zarija, é dono de uma enorme fábrica, mas
recusa-se a ajudá-lo), pois os seus constantes esquemas para
enriquecer depressa falham, uns atrás dos outros.
Para o último — o roubo de um comboio carregado de
gasolina — recorre ao financiamento de um velho mafioso, amigo
de longa data do pai, Grga Pitic (a quem mente, dizendo-lhe que
Zarija já morreu), e escolhe como parceiro Dadan, um extravagante
“gangster” e criminoso de guerra. Acaba, no entanto,
por ser enganado por este, que o obriga a casar o filho de 17 anos,
Zare, com a diminuta Afrodita, a única das suas irmãs
que ainda não deu o nó.

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