“Verão
Escaldante”,
de Spike Lee
Por Marco Vaza
O ano é 1977. Ao ritmo do “disco”
e do “punk”, Nova Iorque vive um dos Verões mais
quentes da sua história e está refém de um
“serial killer” autodenominado “Son of Sam”
(filho de Sam), que vagueia pelas ruas da cidade com uma Magnum
44 a matar pessoas, na sua maioria jovens raparigas de cabelo castanho.
Em resumo, uma cidade pronta a explodir, que Spike Lee, cineasta
nova-iorquino, utiliza como cenário para “Verão
Escaldante/Summer of Sam” (1999), o próximo DVD da
série Y.
Lee, tal como Martin Scorsese ou Woody Allen, é
um homem de Nova Iorque que filma com toda a familiaridade as pequenas
histórias e os grandes conflitos da cidade. Ao contrário
do que fez em muitos dos seus filmes anteriores como “Não
Dês Bronca” (1989) ou “Passadores” (1995),
centrados na comunidade negra, Lee preferiu filmar uma comunidade
italiana do Bronx apanhada no meio de um ambiente de histeria e
paranóia, em que o “serial killer” pode ser o
vizinho do lado, o melhor amigo ou o padre da paróquia.
Como um clone de John Travolta em “Febre de
Sábado à Noite”, Vinny (John Leguizamo) é
o rei das discotecas de Bronx e tem grandes problemas de consciência
nas (muitas) ocasiões em que é infiel à esposa
Dionne (Mira Sorvino), mulher dedicada que fecha os olhos às
traições do marido e só quer encontrar novas
maneiras de lhe dar prazer.
Bem mais feliz é o casal formado por Richie
(Adrien Brody), o “punk” que nunca esteve em Inglaterra,
mas que tem uma atitude e um sotaque ao melhor estilo de Johnny
Rotten (Sex Pistols), e por Ruby (Jennifer Esposito), a prostituta
do bairro.
Em pano de fundo está o próprio assassino
que dá nome ao filme, o “Filho de Sam”, David
Berkowitz (Michael Badalluco), que, até ser apanhado pela
polícia, baleou seis pessoas à queima-roupa e gabava-se
dos seus feitos com cartas dirigidas aos jornalistas e às
autoridades. O reino de terror de Berkowitz motivou uma nas maiores
caças ao homem da história recente dos EUA, acabando
por ser capturado e condenado a seis penas de prisão perpétua,
na cadeia de Attica, em Nova Iorque, onde ainda vive, agora como
um arrependido “cristão renascido”. “Verão
Escaldante” marca ainda a revelação de Adrien
Brody, o recém-oscarizado de “O Pianista”, que
aqui teve um dos seus papéis de maior destaque antes da fama
conquistada no filme de Roman Polansky.
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