Gustav Mahler

Um Génio do Teatro
Caracterizado por um instinto musical único, Rossini abandonou os palcos aos 37 anos. Mas deixou uma vasta produção de óperas e recebeu elogios de Beethoven, Berlioz e Stendha

"Quem me dera fazer uma ópera como Rossini", gritou Beethoven a um amigo que criticou o trabalho do compositor italiano. Gioachino Rossini tornou-se famoso pelo seu talento e pelas óperas que compôs em duas décadas. Algumas das aberturas cómicas mais célebres da sua carreira, desde Il Barbiere di Siviglia (O Barbeiro de Sevilha) à La Pietra del Paragone, podem ser descobertas com o volume 18 da Colecção Royal Philharmonic do PÚBLICO.

Filho de um trompista e de uma cantora, nasceu em 1792 em Pesaro (Itália) e frequentou o Liceo Musicale de Bolonha, onde aos 17 anos compôs a sua primeira ópera, Demetrio e Polibio. Apenas com 24 anos, dirigiu a ópera que o tornaria célebre, Il Barbiere di Siviglia (O Barbeiro de Sevilha) – “uma obra-prima” na opinião do escritor Lucien Rebatet. “A incessante variedade de figuras musicais, árias, recitativos, duetos, conjuntos e o impulso rítmico
que os empurra criam um turbilhão de vida.”
Também Beethoven elogiou O Barbeiro, aconselhando o seu autor a “não (...) fazer outra coisa senão ópera cómica”. Porquê? “A ópera séria não é o forte dos italianos... Não têm ciência musical suficiente para tratar o verdadeiro drama.” Mas Rossini conseguiu ser reconhecido em ambos os géneros.

Contemporâneo dos românticos Franz Schubert e Carl von Weber, foi alvo da inveja do compositor alemão. Em 1822, a capital da Áustria assistiu às estreias de O Caçador Furtivo de Weber e Zelmira de Rossini. Weber tentou prejudicar a popularidade de Rossini, publicando artigos na imprensa que anonimamente criticavam o estilo da sua música. Quatro anos depois, Weber – já doente – procurou-o para reconciliar-se. Com pena do compositor, Rossini respondeu-lhe: “Não li esses artigos, não sei ler alemão.”
No teatro, o génio italiano tinha um instinto musical único, capaz de dominar o palco, a caracterização das personagens e o discurso dramático. Mas, ao confiar demasiado no seu talento, não o aperfeiçoou. Para Stendhal, Rossini era “a única
esperança da escola italiana”. O escritor francês admirava-o e até publicou uma biografia do compositor, Vida de Rossini, mas não poupava os seus vícios, acusando-o de ser preguiçoso e de se plagiar a si próprio.

Quarenta óperas em duas décadas
Em 1810, La Cambiale di Matrimonio marcou a primeira estreia de Rossini no teatro, lançando o compositor numa fase de trabalho frenético – até 1814 compôs catorze óperas. O segredo da vasta
produção é o facto de Rossini repetir aberturas em várias óperas, estratégia a que Bach e Haendel, entre outros, também recorreram quando não tinham tempo para satisfazer as encomendas.
Chegou ao teatro alla Scala de Milão em 1812 com a ópera em dois actos La Pietra del Paragone – um grande êxito. No ano seguinte, estreou-se no La Fenice, em Veneza, e o sucesso de Tancredi permitiu-lhe viajar pelos teatros da Europa. A farsa
L’Italiana in Algeri e o melodrama Il Turco in Italia (O Turco em Itália) estrearam-se no São Carlos (Portugal), respectivamente, em 1815 e 1820.
Mas foi com Il Barbiere di Siviglia (O Barbeiro de Sevilha) e La Cenerentola (A Cinderela) que Rossini atingiu o auge e passou a ser adorado em Itália, França, Espanha, Áustria e Rússia. A partir daí, o seu ritmo criativo abrandou e as raras estreias tornaramse cada vez menos populares. O que alimentava a sua fama era a enorme produção anterior, recuperada continuamente pelos teatros de Paris.
A última tentativa de Rossini foi um projecto totalmente novo baseado num drama de Schiller, Guilherme Tell. A estreia, em 1829, na Academia Real de Música de Paris, foi elogiada por compositores como Berlioz e Donizetti, mas a ópera não gerou a adesão do público como outras obras de Rossini. Prolongava-se durante quatro horas e enfrentava a concorrência de obras de Bellini e também Donizetti. O compositor foi assim confrontado com uma evolução artística que não acompanhou e decidiu abandonar o teatro e a ópera.
No entanto, não desistiu definitivamente da música e, durante quase quarenta anos, continuou a compor “para se entreter”. Passou os últimos dias em França, entre o apartamento de Paris e a casa de Verão em Passy, e morreu a 13 de Novembro de 1868. Actualmente, o seu trabalho é reconhecido sobretudo pelas óperas – cerca de quarenta –, mas Rossini também compôs cantatas, hinos para coro, missas e sinfonias.

 

Mahler, que nasceu em 1860, em Kalischt,
uma pequena cidade da Boémia, fez em 1885 os primeiros esboços da Sinfonia Nº 1 em Ré Maior, Titã. Quatro anos mais tarde, a obra era apresentada pela primeira vez ao público em Budapeste. Um jornalista descreveu-a assim: o primeiro andamento é como “os movimentos da
Primavera”, o segundo parece “uma serenata”, o terceiro é “um cortejo nupcial, que expressa uma alegria e felicidade sem limites”, o quarto “uma marcha fúnebre” e o final descreve um “herói caído”, que depois “se levanta, canta uma serenata e mostra-se triunfante”.
Nos anos seguintes, a obra foi reescrita por diversas vezes, somando críticas por parte dos músicos e críticos mais conservadores. Houve, no entanto, quem reconhecesse o génio deste músico, que embora muito admirado pela sua capacidade
de orquestração nunca alcançou o merecido
reconhecimento como compositor. O prestigiado maestro Bruno Walter, que foi aluno de Mahler, dizia sobre ele: “Pensava que este génio não existia (...) Mahler era uma mistura de anjo e demónio.”


Uma porta para a música do século XX
Admirador de Wagner, Mozart e Bach, Mahler
foi uma figura de destaque da cultura vienense
e fez a ponte entre a música do século XIX e XX. Quando jovem e após terminar o liceu, ingressou no Conservatório de Praga e teve aulas de piano com Julius Epstein e de composição com Franz Kreen. Uma vez concluídos os estudos, Mahler começou a
escrever as suas primeiras composições.
Contudo, o fracasso de uma das suas obras,
A Canção Plangente, levou-o a preferir a carreira
de maestro em vez da de compositor.
Em 1908, atravessou o Atlântico e começou a
trabalhar na Metropolitan Opera House, em Nova Iorque. Mais tarde, acabou por regressar à Europa e tornar-se o maestro – e a alma – da Orquestra Filarmónica de Viena. Se não fosse a sua extraordinária capacidade de trabalho, não teria tido tempo para escrever as suas próprias composições. O maestro e compositor Pierre Boulez diz sobre Mahler: “Inovou e desafiou as formas clássicas de uma forma autêntica (...), ninguém as pode destruir ou apagar da memória colectiva dos povos, da Humanidade.” Morreu em 1911, na capital austríaca.




 

 

 

PRÓXIMO COMPOSITOR

Nikolai Rimski-Korsakov

Como explica o músico George R. Seaman, "Rimski- Korsakov era verdadeiramente um homem com muitas facetas. Para além do seu trabalho como um produtivo compositor, ele era também professor, inspector de música, maestro, escritor". E, curiosamente, começou por seguir uma carreira militar. Natural da pequena cidade russa Tikhvine, Nikolai Rimski-Korsakov tinha 12 anos quando viajou para São Petersburgo e integrou a Escola de Cadetes da Marinha. Lado a lado com os estudos, a música seduzia o jovem Rimski. Na época dos czares, São Petersburgo reunia os melhores espectáculos musicais e os grandes músicos da Rússia. Antes de concluir o curso, Rimski-Korsakov começou a compor a sua primeira sinfonia, motivado por Balakirev. Mas, ao ser promovido a oficial da Marinha, teve de participar numa missão de três anos em viagem pelo mundo e interromper os primeiros esboços do seu trabalho. Quando regressou, trouxe na memória diversas experiências vividas em países como Espanha ou Brasil e optou pela música como profissão. Dedicou-se ao estudo e à investigação, mas ficou célebre pelas suas óperas, poemas sinfónicos e obras para canto. Foi um dos criadores e impulsionadores do nacionalismo musical, enriquecendo as suas composições com o folclore e as canções populares russas. Morreu em Liubensk (Rússia), vítima de um enfarte, em Junho de 1908. Em sua memória, o discípulo Igor Stravinski compôs uma obra fúnebre, que se estreou no Outono seguinte.