‘Nautilus’, o primeiro submarino da fantasia e da História,
Júlio Verne
Por
SARA GOMES
Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2005
O corajoso Professor Aronnax é o guia desta viagem pelas profundezas do mar no interior do primeiro submarino alguma vez imaginado. A patente do veículo, que também é chamado “monstro”, é do visionário Júlio Verne.
Vinte mil léguas, numa volta ao mundo em submarino através do Pacífico, do Índico, do mar Vermelho, do Mediterrâneo, do Atlântico, dos mares austrais e boreais. É esta a aventura do destemido e curioso Professor Aronnax, personagem criada em 1868 pelo então já muito conhecido Júlio Verne (1828- 1905). Em “20.000 Léguas Submarinas”, o escritor francês narra a história de um monstro marinho, que se desloca a velocidades incríveis e destrói tudo por onde passa.
Esse “monstro”, descobre-se mais tarde, é “Nautilus”, o primeiro submarino conhecido da História e da fantasia. Em 1954, quando a Marinha norte-americana lançou o primeiro submarino nuclear, baptizou-o de “Nautilus” em homenagem à aventura que o escritor visionário criou nas profundezas do mar.
Júlio Verne, que publicou mais de 60 romances, conheceu grande sucesso ainda em vida, o que lhe permitiu comprar um barco de oitenta toneladas. A bordo dele, fez inúmeras viagens e inspirou-se para escrever este conto fantástico. Aqui, as aventuras são relatadas pelo Professor Aronnax e o submarino é conduzido pelo enigmático e austero capitão Nemo. A mítica personagem defendia a sua embarcação com unhas e dentes: “Amo-o como se fosse da minha carne! Se tudo é perigo a bordo de qualquer navio sujeito aos caprichos do oceano, se sobre o mar a primeira coisa que nos vem é a sensação de abismo, como tão bem disse o holandês Jansen, por baixo e a bordo do ‘Nautilus’, o coração do homem nada tem a recear.”
Passeios por lugares desconhecidos e uma visão futurista da mecânica comprovaram o carácter visionário de Júlio Verne, considerado um autor pioneiro de ficção científica. Influenciado pelos relatos de aventuras de Jonathan Swift (autor de “As Viagens de Gulliver”) ou pelos contos macabros de Edgar Allan Poe, Júlio Verne desafiou todos os limites da imaginação ao prever invenções como as do submarino, do helicóptero, do ar condicionado ou dos mísseis teleguiados.
Prisioneiros de um submarino
Corre o ano de 1866 e “um estranho acontecimento, um fenómeno inexplicado e inexplicável” preocupa as populações dos portos, do interior dos continentes e, sobretudo, a “gente do mar”. Uma “coisa enorme” e “mais rápida do que uma baleia”, que se pensava ser um monstro, destruía navios e matava marinheiros sem dó, nem piedade. “Viram-se reaparecer nos jornais — à falta de original — todos os seres imaginários e gigantescos, desde a baleia branca, a terrível Moby Dick (...) até ao desmedido ‘Kraken’, cujos tentáculos podem enlaçar um navio de 500 toneladas.”
Inflamada a opinião pública, exigese que “os mares fossem finalmente limpos”. É então que o Professor Aronnax, investigador no Museu de História Natural de Paris, é convidado pelo governo americano a participar na expedição do “Abraham Lincoln” com o objectivo de “dar caça a esse monstro inquietante”. A proposta é imediatamente aceite e o professor faz-se acompanhar pelo seu fiel criado, Conseil. Um rapaz “zeloso por hábito”, “muito hábil com as mãos” e “pronto para todos os trabalhos”.
Já no decurso da viagem, eis que um incidente lança o professor ao mar, que é seguido por Conseil e pelo corajoso arpeiro Ned Lang, de origem canadiana. Sozinhos em pleno mar alto, descobrem que o “monstro” afinal é de “chapa de aço” e são feitos prisioneiros do submarino. Durante dez meses e sob o domínio do capitão Nemo, percorrem todos os mares e vivem todo o tipo de perigos até conseguirem a sua liberdade.
Quem é, na verdade, o capitão de “Nautilus”? Por que razão se refugiou num submarino e odeia os homens? Estas e outras dúvidas são alguns dos motivos de atracção deste livro, que é uma fascinante aventura de exploração do fundo do mar. Mas não só. Este romance discute temas como as misteriosas ruínas da Atlântida, a utilização de recursos do mar para o bem da humanidade, a energia atómica e algumas questões político-filosóficas sobre a finalidade da ciência.
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