Um símbolo contra a tirania e a injustiça
Por FRANCISCA GORJÃO HENRIQUES
Terça-feira, 04 de Janeiro de 2005

“A Túlipa Negra”, de Alexandre Dumas, fala do duelo entre o bem e o mal. E de um amor que nasce numa prisão

Quanto vale uma túlipa negra? Cem mil florins, na Holanda do século XVII. Vale também inveja, difamação, traição. Ou amor, entrega, obsessão. Em “A Túlipa Negra”, de Alexandre Dumas, a procura da flor, “brilhante como azeviche”, é uma luta entre o bem e o mal. A túlipa negra torna-se num símbolo contra a tirania e a injustiça.

A acção desencadeia-se no dia 29 de Agosto de 1672, em Haia, a capital das Sete Províncias Unidas. Morrem dois homens, vítimas de conspiração, nas mãos de um povo revoltado. E cria-se a trama que envolverá Cornélio, um dedicado cultivador de túlipas, que servirá para o condenar, injustamente, de traição à pátria. Na prisão, Cornélio apaixona- se por Rosa, a filha do carcereiro.

É este amor improvável entre Rosa e Cornélio que permitirá que, dentro de uma cela de prisão, cresça a mais pretendida e valiosa das flores holandesas, pela qual a Sociedade Hortícola de Haarlem oferece cem mil florins. É com a ajuda de Rosa que o herói consegue criar a túlipa negra. E é também Rosa quem o ajudará a recuperar a liberdade.

“A Túlipa Negra”, o romance mais curto de Dumas, foi escrito em 1850, mas as suas preocupações políticas e sociais não são datadas: golpes e intrigas para atingir o poder, difamações e denúncias para enriquecer, artimanhas para decretar sentenças. “Já que Cornélio van Baerle se ocupava ao mesmo tempo de túlipas e de política, o acusado era duma natureza híbrida, de uma organização anfíbia, que trabalhava com igual ardor na política e na túlipa, o que lhe dá todos os caracteres da espécie de homens mais perigosa para o sossego público.”

Diz-se que era Auguste Maquet, professor de História, quem ajudava Dumas nos seus relatos históricos. Mas era das mãos do romancista que saíam as caracterizações das personagens, as vívidas descrições das cenas, às vezes de forma quase cinematográfica, por vezes com grande violência: “Puxaram-no para a multidão, no meio da qual podia ver-se o rasto sangrento que ele traçava, e que se tornava a fechar atrás dele com grandes apupos cheios de alegria. […] – Meu irmão, onde está meu irmão? Um desses furiosos deitou-lhe ao chão o chapéu com um murro. Um outro mostrou-lhe o sangue que lhe tingia as mãos; acabara de estripar Cornélio e acorria para não perder a ocasião de fazer outro tanto ao grande pensionista, enquanto levavam para a forca o cadáver do que já estava morto.”

Como em outros romances — é disso exemplo “Os Três Mosqueteiros” ou “O Conde de Monte Cristo” —, o autor junta factos históricos (neste caso, o assassinato dos irmãos De Witt) com histórias de amor e aventura. Pode parecer improvável, mas o relato à volta de uma flor também é capaz de se tornar num conto de “suspense”.

 



Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.