Amigos livres e sem idade
Por SOFIA LORENA
Terça-feira, 28 de Dezembro de 2004

“Robin dos Bosques”, de Howard Pyle, traz-nos as aventuras do mais romântico dos “fora-da-lei” britânicos

Membro da idade de ouro da ilustração americana, desenhador profícuo e escritor, Howard Pyle (1853-1911) foi uma referência para os jovens que durante décadas passaram pelas suas aulas, muitos dos quais se transformaram também em ilustradores e professores. Apesar de se ter dedicado principalmente à ilustração e ao seu ensino, criando mesmo estúdios onde ensinava de forma gratuita alunos que considerava dotados, escreveu alguns dos livros que ilustrou, deixando obras que são lidas a cada geração.

Mais conhecido do que as suas ilustrações da história de Robin dos Bosques é o seu relato da vida do romântico fora-da-lei britânico “que roubava aos ricos para dar aos pobres” na Inglaterra do início do século XIII. O ilustrador acabou por dar voz àquela que é provavelmente a mais conhecida narração das aventuras de Robin e é o seu nome que naturalmente identificamos identificamos com a história. A versão que assinou foi repetidamente reeditada e novamente ilustrada muitas e muitas vezes.

As ilustrações que acompanhavam a edição original deste "The Merry Adventures of Robin Hood", de 1883, ao estilo de gravações em madeira, estão reunidas no The Robin Hood Project, um projecto da Universidade de Rochester, e podem ser encontradas "online".

Para escrever "Robin dos Bosques", Pyle reuniu algumas das mais famosas baladas conhecidas sobre Robin, reescrevendo-as ao seu estilo. Para além do "príncipe dos ladrões", elege como personagens principais o seu inseparável companheiro, João Pequeno, Will Escarlate e Frei Tuck. Do lado dos antagonistas, temos o xerife de Nottingham e as suas frustradas tentativas para capturar o herói da floresta. De fora fica Marion, a heroína que quem conhece a história a partir de outras versões ou das adaptações ao cinema sabe ser dona do coração de Robin e que no livro de Pyle nunca aparece.

Temos então uma história apenas de homens: amigos aventureiros e alegres que gostam de se divertir tanto como se orgulham por serem livres e justos. A liberdade da floresta Sherwood (o seu território, onde as leis são as suas) que escolheram como casa e a vida longe dos deveres e ambições da cidade ajuda-os a permanecerem crianças. Meninos grandes, não resistem à perspectiva de uma partida bem pregada ou de uma luta inesperada. Adoram disfarçar-se, criar situações, apanhar em falso aqueles que deles não gostam.

Num livro quase sem gota de sangue ou mortes, sucedem-se os combates. Há torneios de tiro ao arco, claro, mas também lutas corpo a corpo e estafantes confrontos de mestres no jogo de pau. Perde-se e ganha-se; ganha-se mais vezes do que se perde e a derrota só acontece para permitir que aconteça algo mais importante - quase sempre a descoberta de um novo amigo.

Sem armas de fogo, mas com muitas setas afiadas, a cada luta e nova aventura acreditamos que estes são heróis imortais. Talvez porque a história que nos contam é acima de tudo de amizade.




Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.