"O segredo de Peter Pan para nunca se tornar adulto" de James M. Barrie
Por DIEGO ARMÉS DOS SANTOS
Terça-feira, 07 de Dezembro de 2004

Um bando de miúdos vive aventuras que ultrapassam a capacidade de imaginar dos adultos. Peter Pan comanda as operações

Num sítio do mundo que é difícil localizar — para lá da imaginação ou antes do fim da inocência? — fica uma ilha, a Ilha da Fantasia, com cascatas de sonho, fadas (a irresistível e temperamental Sininho), piratas, animais esquisitos e um crocodilo com a barriga a dar horas. Além desta variedade de habitantes, existem ainda as “crianças perdidas”, um bando de miúdos liderado por Peter Pan, o menino que não queria crescer.

Estas “crianças perdidas” não têm mães nem pais — tal como Peter Pan, que acha que as mães servem apenas para contar histórias. São miúdos que não pensam em crescer e que se limitam a divertir-se vivendo aventuras, algumas delas bem perigosas, especialmente quando enfrentam os piratas do Capitão Gancho (aquele que perdeu a mão direita na boca de um crocodilo e que, por causa desse episódio, nutre por Peter Pan um ódio absoluto).

Contudo , a presença de Wendy e dos irmãos de Peter Pan, Michael e John, leva a que as “crianças perdidas” comecem a criar a consciência de que é necessário crescer, que as mães afinal são boas e fazem falta e que não se pode viver para sempre no mundo dos sonhos. Wendy toma conta do grupo e, sendo a única rapariga, torna-se uma espécie de “mãe” de todos os outros miúdos: trata-lhes da roupa, adormece-os, dálhes “remédio” (pronto, é apenas água... mas dado através de um conta-gotas, como se fosse mesmo um medicamento) e conta-lhes histórias. Só Peter Pan se mantém irredutível na sua condição de criança...

Sir James Matthew Barrie, dramaturgo e novelista escocês, escreveu “Peter Pan” como um texto de teatro e só depois o transformou em novela infantil. A luta entre a imaginação e a realidade, o não querer crescer e o deixar de acreditar em sonhos, a crueldade da inocência infantil e a perda da mesma inocência são presenças constantes ao longo da história. Os cenários, fruto de uma imaginação fértil, levam o leitor por paisagens de uma pureza infantil. As “crianças perdidas” e os seus inimigos e outros co-habitantes da Ilha da Fantasia são um retrato (ou aproximação...) do que é “ser-se criança”, quando a imaginação parece infinita, as responsabilidades não existem, os perigos não são medidos e o tempo nunca custa a passar.

“Peter Pan” teve um enorme sucesso quando da sua edição e transformou-se num clássico da literatura infantil. Talvez a temática tenha ajudado ao sucesso da obra de J.M. Barrie. Ou talvez a personagem de Peter Pan seja simplesmente irresistível e admirável: ainda hoje vive na Ilha da Fantasia e nunca se tornou adulto.



Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.