“Entre na aventura subterrânea de Júlio Verne"
Por RUI PEDRO VIEIRA
Terça-feira, 09 de Novembro 2004
Viagem ao Centro da Terra” avança pelas “entranhas” do planeta em nome da ficção exótica e cativante. Mais um volume da “Geração PÚBLICO”
Conceber uma viagem à volta do mundo em menos de três meses ou uma expedição ao fundo dos oceanos, quando ainda não existiam submarinos com propulsão eléctrica, tornaram-no num autor de referência no género ainda pouco definido da ficção científica. As suas obras já foram traduzidas em quase todos os idiomas e, durante algum tempo, chegou a ser consi-derado o escritor mais lido do mundo. A imaginação sem limites de Júlio Verne deu azo a experiências literárias que o ambiente cultural e científico do século XIX acolheu com surpresa e alguma interrogação.
“Viagem ao Centro da Terra” (1864) é um dos seus livros mais arrojados, propondo uma odisseia subter-rânea até à região “onde pulsa o coração da Terra”. Partindo do conceito (nem sempre muito estável) de “plausibilidade científica”, Verne criou uma aventura colossal, um épico que procura testar leis, princípios e probabilidades com o intuito de evidenciar um entre-tenimento exótico e visionário.
Para protagonizar esta história de contornos fantás-ticos, o autor de “Volta ao Mundo em 80 Dias” escolheu a figura de um geólogo conceituado, professor numa universidade alemã. Otto Lidenbrock é apresentado como um homem rigoroso, parco em elogios e afectos, que, como quase todos os sábios, esquece as neces-sidades básicas sempre que uma nova conquista cien-tífica surge no horizonte. O seu gabinete é descrito como “um museu” e é aqui que vai tentar decifrar um velho documento de um alquimista islandês do século XVI, Arne Saknussemm.
Quando percebe que se trata de um rota lendária para o centro da terra, Lidenbrock não hesita em convocar o seu sobrinho, Axel, para o acompanhar até ao vulcão Sniffels, a misteriosa “porta de entrada” do subsolo. Um pouco renitente com os delírios científicos do tio, Axel, que é também o narrador da história, figura como contraponto realista para uma missão que, por si só, é abismal. Os receios, as dúvidas e as vontades de recuar estão todos concentrados nas atitudes deste jovem que só pensa em voltar para os braços da sua noiva, a “encantadora” Graüben.
O sisudo guia islandês, Hans, é uma presença miste-riosa de poucas palavras (fala um idioma apenas en-tendido por Lidenbrock) e é o último elemento a entrar nesta expedição, onde vai haver espaço para monstros pré-históricos e viagens de jangada por mares revoltos. Além da missão científica, “Viagem ao Centro da Terra” é um teste à condição humana e serve também para desafiar as relações do trio protagonista.
Mais de um século depois, a obra continua a ser um clássico apelativo, marca do imaginário de Júlio Verne, capaz de alcançar novos mundos como se de um ver-dadeiro descobridor se tratasse. Mesmo que, em vida, tivesse viajado pouco.
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