"Aventuras de um aspirante a cavaleiro em busca de justiça" de Richard Shelton
Por INÊS BOAVENTURA
Quarta-feira, 27 de Outubro de 2004

“A Flecha Negra” tem lugar nos tempos da Guerra das Duas Rosas e é protagonizada pelo au-dacioso mas inexperiente Richard Shelton. A temida ir-mandade da Flecha Negra é um dos desafios que o jovem terá de enfrentar.

Autor de uma extensa produção literária, que abrangeu áreas tão diversas como o teatro, a poesia e o ensaio crítico, Robert Louis Stevenson será para sempre associado à literatura juvenil. Empolgantes aventuras como “A Ilha do Tesouro” e “A Flecha Negra” cedo se tornaram verdadeiros clássicos e o mais visível legado do escocês que se apresentava como um contador de histórias. “O mais importante num livro é a capacidade de entreter e abstrair o leitor da vida quotidiana”, dizia o adepto da “literatura-entretenimento”, capaz de transportar os leitores mais jovens para paragens distantes e tempos longínquos.

Em “A Flecha Negra”, obra que começou por ser publicada em folhetim em 1883, Robert Louis Stevenson recua à Inglaterra do século XV, quando o país acabara de se envolver na Guerra das Duas Rosas. É aqui, por entre sangrentas batalhas em que as casas de York e de Lancaster disputam o domínio territorial e a sucessão ao trono, que o jovem Richard Shelton vai viver uma empolgante aventura.

Com cerca de dezoito anos, rosto bronzeado e olhos castanhos, trajado com uma jaqueta de pele de gamo com colarinho de veludo negro, touca verde na cabeça e uma besta pendendo dos ombros, Richard é o herói de serviço. Ao aspirante a cavaleiro, que percorre, ao serviço de Sir Daniel Brackley, bosques pejados de te-midos fora-da-lei, estão reservados grandes desafios, aos quais se vai entregar com garra e determinação. Motivado pela tentativa de descobrir quem esteve por trás da morte precoce de seu pai, o pupilo do interes-seiro e pouco fiável senhor feudal de Tunstall vai ainda ter de se debater com uma série de incertezas sobre a moralidade daquele que sempre olhara com respeito. Entre uma profunda dívida de gratidão e a desconfiança de que Sir Daniel Brackley possa ter arquitectado a morte do seu ente mais querido, Richard vai ter de descobrir a verdade.

Uma perversa irmandade

Nos tempos conturbados da Guerra das Duas Rosas, feita de frágeis e pouco dura-douras alianças entre as mais influentes famílias do país e de sangrentas batalhas em que aqueles que eram tomados por amigos podem bem ser o próximo inimigo, há ainda um outro perigo, que se esconde nos densos bosques de Inglaterra. É este o abrigo da temida irmandade da Flecha Negra, liderada por John, um implacável justiceiro ávido de vingança. Flechas negras, com penas da mesma cor, são a imagem de marca do grupo que aterroriza a região, prometendo um futuro pouco auspicioso a quatro perversos personagens que, por baixo de uma armadura de integridade, escondem um coração igualmente negro e um passado manchado por actos pouco nobres.

Este é apenas um dos muitos desafios que o jovem Richard Shelton vai ter de enfrentar, numa aventura recheada de perigosas perseguições, sangrentos confrontos, ataques vindos de onde menos se espera, fugas inadiáveis e muitas outras dificuldades que chegam a parecer insuperáveis. E se o desejo de fazer justiça e a lealdade norteiam a sua acção, a tanta coragem e determinação não é indiferente o amor confesso por aquela que acredita ser a mais bela jovem de Inglaterra. Por Joanna Sedley, objecto da sua afeição, Richard não hesitará em lançar-se no mais desigual dos conflitos, mantendo a esperança de um dia partilharem um futuro, até mesmo quando a jovem está prestes a percorrer o altar ao lado de outro homem.

“Reconheço-me em parte culpado. Mostrei-me demasiado impulsivo e, por vezes, agi sem reflectir. Já roubei um barco e causei assim a morte de vários inocentes. Além disso, arruinei um infeliz. Nunca esquecerei o olhar e o rosto daquele pobre homem!”, confessa Richard, já depois da decisiva batalha de Shoreby, onde o destino do personagem principal de “A Flecha Negra” vai ser traçado, embora só depois de uma longa noite no bosque se anteveja o final da trama. E, se para alguns dos intervenientes o futuro se apresenta auspicioso, para outros John, o Justiceiro, que se confessa presa do demónio da vingança, reservou uma sorte diferente, à altura dos pecados de que mesmo o herói da aventura sabe não estar isento.

 

 



Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.