A Primeira Viagem ao Futuro
Por JOSÉ VÍTOR MALHEIRO
Terça-feira, 28 de Setembro de 2004

"A Máquina do Tempo" foi a primeira obra de ficção publicada por Wells e traduziu-se num sucesso imediato. De um dia para o outro o pobre e anónimo professor de ciências Herbert George Wells transformou-se no celebérrimo autor de ficção científica H. G. Wells, cuja fama e influência nunca mais desapareceriam até ao fim dos seus dias - e mesmo para além deles.

Nascido em 1866 em Bromley, no Kent, numa família de modestíssimos recursos, Wells teve de começar a trabalhar aos 14 anos de idade, tendo sido sucessivamente aprendiz de fanqueiro, de droguista e contínuo numa escola. A primeira grande viragem da sua vida acontece aos 18 anos quando conquista uma bolsa para estudar biologia na Normal School of Science, em Londres, que leva a cabo então uma revolucionária experiência pedagógica de ensino livre. É aí onde encontra professores de excepcional gabarito como o famoso biólogo darwinista e agnosticista militante T.H. Huxley (avô do escritor Aldous), que o marcarão para sempre. Em 1888 obtém o seu diploma pela Universidade de Londres e torna-se o professor de ciências que, em 1895, a fama literária de "A Máquina do Tempo" virá arrancar para sempre do anonimato.

Escrito como um relato oral - o Viajante no Tempo conta a sua história a uma roda de amigos, em torno da lareira - "A Máquina do Tempo" não só conquistou os leitores britânicos com a sua excitante narrativa como se tornaria no livro fundador da moderna ficção científica. Nos anos seguintes, Wells traria à luz outras obras de referência da ficção científica, como "A Ilha do Dr. Moreau" (1896), "O Homem invisível" (1897) e "A Guerra dos mundos" (1898), aos quais se seguiriam muitas obras de outros géneros, da ficção humorística ao ensaio histórico e ao manifesto político.

Homem dotado de uma profunda consciência social, activista socialista, militante pela paz mundial e pela igualdade, defensor dos direitos das mulheres e da liberalização dos costumes, crente no papel emancipador da educação, polemista e panfletário, Wells manifestou durante quase toda a sua vida uma profunda fé no progresso humano e na capacidade libertadora da ciência. "A Máquina do Tempo", porém, exibe um pessimismo sobre o futuro da humanidade que o autor voltaria a adoptar, anos mais tarde, primeiro após a experiência da Primeira Grande Guerra, e definitivamente após a Segunda Guerra Mundial - que o fez perder a esperança em qualquer progresso social.

Wells escreveu e reescreveu "A Máquina do Tempo" cuidadosamente, ao longo de sete anos, segundo mostram as suas notas e rascunhos. O resultado é um pequeno grande livro, que se lê de um fôlego, inesquecível não só pelas suas peripécias mas pelas profundas questões que coloca sobre o homem, a sociedade e o futuro, e que nos deixa, no meio da imagem de um mundo impiedoso e idiotizado, apenas o reflexo de uma ténue esperança.



Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.