Descubra Se o Corsário Negro Consegue Vingar-se de Wan Guld
Por RAQUEL RIBEIRO
Terça-feira, 21 de Setembro de 2004
Quem ousaria enfrentar o duque de Wan Guld, o governador de Maracaíbo, uma das cidades mais importantes do golfo do México? Resposta: apenas o Corsário Negro, o famoso pirata da Ilha das Tartarugas, que jurou vingança pela morte dos seus dois irmãos, os corsários Verde e Vermelho.
Na madrugada em que o corpo do Corsário Vermelho chega finalmente ao "Relâmpago", o navio do seu irmão Corsário Negro, "parecia que as cristas das ondas expeliam centelhas, e a espuma se estendia na praia, em forma de franja, via-se semeada de soberbos fulgores fosforescentes", escreve Emilio Salgari, o autor de "O Corsário Negro".
E quando o corpo do Corsário Vermelho é atirado ao mar, "no meio de um círculo de espuma luminosa, aparecera um vulto escuro mas impreciso, mergulhando logo nos abismos do golfo", e uma voz ecoa dos profundezas - era o Corsário Verde a anunciar a chegada do seu irmão Corsário Vermelho.
"Eu juro por Deus, sobre estas ondas que nos são fiéis companheiras, pela minha alma, que nenhum bem sentirei na terra enquanto não tiver vingado os meus irmãos assassinados por Wan Guld (...). Que a minha alma seja eternamente maldita, se eu não matar Wan Guld e não exterminar toda a sua família como ele destruiu a minha", grita o Corsário Negro.
Como quase todos os heróis de Salgari, o Corsário Negro é um "bárbaro" que luta contra a ordem "civilizacional" que lhe é imposta. Mas aqui o leitor é tentado a admirar a humanidade do pirata. Porquê? Há um ligeiro sentimento de impotência que perpassa a voz do Corsário Negro. Apesar de impiedoso e destemido (e apesar de pirata), emociona-se demasiadas vezes: quando recorda os irmãos brutalmente assassinados, quando olha o horizonte e a lua recorta a sua silhueta, quando a misteriosa duquesa flamenga dele se aproxima (maliciosamente?) e ele por ela se enamora. O corsário é mesmo um homem cheio de dúvidas, de angústias ("acreditas que há mulheres fatais?", pergunta a Morgan, seu braço-direito, ou "serias capaz de amar sem receio uma mulher?"). Tudo isso o torna ainda mais humano e transforma a sua vingança num objectivo inexorável, uma terrível e longa viagem, quem sabe, sem regresso.
Emilio Salgari (1862-1911) nasceu em Verona, Itália. Escreveu séries de aventuras exóticas e de viagens - "Piratas da Malásia", "Corsários das Antilhas", "Corsários das Bermudas" ou "Far-West", são alguns exemplos. É um dos autores mais lidos de Itália (e um dos italianos mais traduzidos no Mundo), e foi também o criador do herói Sandokan, o príncipe malaio.
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