Quarta-feira, 8 de Setembro


 

"Oliver Twist"
Por RITA PIMENTA

Franzino e pálido, Oliver Twist vive num orfanato perto de Londres, desconhece a sua origem e é maltratado por quem dele devia cuidar – os funcionários da instituição Asilo da Mendicidade e Órfãos. Terá uma vida desgraçada e triste, mas não para sempre.

Criada por Charles Dickens, esta personagem enquadra-se no perfil que o autor gosta de atribuir às “crianças que inventa”. Com percursos difíceis e sempre vítimas de injustiças sociais, os pequenos protagonistas acabam por conseguir ajustar contas com o destino. À semelhança do autor.

Nascido em Landport (Reino Unido), em 1812, o próprio Dickens foi obrigado a trabalhar desde cedo numa fábrica, em consequência de o seu pai ter sido preso por não conseguir pagar as dívidas que fora contraindo ao longo de vários anos. Tornou-se num activista contra as desigualdades sociais da sociedade britânica do séc. XIX e chegou a redigir panfletos de carácter político, em que denunciava as injustiças do seu tempo – a era industrial.

As personagens caricaturais a que deu forma personificavam a hipocrisia das elites e a indigência perante os pobres e desprotegidos, sobretudo as crianças. Em “Oliver Twist”, todas as desventuras têm por base a origem social do rapaz, aparentemente excluído do ciclo da gente respeitável londrina.

Dickens, aos 26 anos, consegue desafiar o seu próprio “condicionalismo social” e torna- se famoso, ascendendo na escala que se diria intransponível. Fá-lo através das palavras. Vende-as em fascículos, como era comum na época.

Oliver tem sorte mais cedo. É logo na pré-adolescência que se livra do bando de ladrões que o querem explorar e encontra uma família disposta a ajudá-lo. Mais, a sua verdadeira família sempre tinha algo para lhe deixar como herança. Um final que ajuda os mais novos a acreditar que, mesmo estando a viver um momento dramático, este pode um dia vir a alterar-se.

Antes do desfecho, o miúdo tem de suportar inúmeras privações, não só de alimentos e conforto, como de afectos. Obrigado a ser ajudante de limpa-chaminés e a trabalhar depois como cangalheiro, perde ainda o seu amigo mais próximo. Continuamente maltratado por quem com ele se cruza, decide fugir para Londres. Quando parece que tudo vai melhorar, descobre- -se no meio de uma quadrilha de ladrões, num ambiente escuro, sujo, a que não falta a presença sempre repelente das ratazanas.

É assim que Charles Dickens vai desconcertando o leitor, que desespera perante a impotência e solidão da criança. Quando se está prestes a perder irremediavelmente a esperança nos homens, o autor resolve dar uma oportunidade às personagens. E aos leitores.

Esta reviravolta positiva que “o homem que inventou o Natal” imprime nas suas narrativas mais trágicas não deve ser alheia ao seu percurso de vida. Quando criança, decerto não imaginaria que seria famoso pelas suas histórias. E, afinal, passados quase dois séculos, aqui estamos a falar dele.







Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.