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"Os
Cavaleiros da Távola Redonda"
Por Raquel Ribeiro
O rei Artur é uma figura histórica
ou o herói que deu corpo a uma lenda? Cabe ao leitor decidir
– porque Artur é o símbolo da luta incessante
do bem contra o mal, da luz contra as trevas.
A questão vem desde o Renascimento, quando
a veracidade histórica da figura de Artur era defendida com
vigor, sobretudo porque os monarcas da dinastia Tudor traçaram
a linhagem até si e usaram essa ligação para
justificar a ocupação do reino. Estudos mais recentes
reconhecem, contudo, que existiu, de facto, uma figura, no final
do século V
e inícios do século VI, que justificou a lenda, mas
não um rei com um “bando” de cavaleiros em luta
pela justiça e atrás do Santo Graal – à
volta de uma távola imaginária, que seria apenas uma
“tábua”
de valores. Mas é inegável a influência da sua
personagem na literatura, na arte e na sociedade, desde a Idade
Média até hoje (e no século XX, também
no cinema). Porque todos os grandes heróis “beberam”
a influência de Artur. E todos lhe “imitaram o estilo”.
No coração da lenda arturiana está
a terra, Inglaterra, intimamente ligada às aventuras dos
cavaleiros. O exterior? As montanhas, os vales, os rios, as árvores
e as plantas de enorme verdura. O interior? Misteriosa, assombrada
por mitos, às vezes lendas que nada mais são do que
ficção, às vezes histórias de fantasmas
“verdadeiros”. Às vezes são apenas nomes,
como Camelot ou Camlan ou Badon. E até os lugares se colocam
muitas vezes em questão – serão lenda ou verdade?
A távola redonda
Há também várias versões
sobre a origem da távola redonda, à roda da qual o
rei Artur e os seus cavaleiros se reuniam para contar os feitos
e procurar novas aventuras. O cronista normando Wace foi o primeiro
a mencioná-la no seu “Roman de Brut”, de 1155,
onde explicava que Artur “criara” a távola redonda
para prevenir guerras internas entre os barões, que punham
em causa a legitimidade do reino – Artur era herdeiro de Utário,
mas só o feiticeiro Merlim o sabia.
As origens da távola re - montam, em princípio,
ao tempo dos celtas, mas em histórias m e d i e v a i s atribuíam
a Merlim a sua criação. Mas há mais histórias
ligadas aos cavaleiros e a Merlim – uma delas é a construção
do famoso santuário escocês, Stonehenge. Reza a lenda
que foi o pai de Artur que pediu ao seu feiticeiro a construção
de um “memorial” para o seu irmão Ambrosius e
os guerreiros britânicos trucidados pelos Saxões no
massacre conhecido como “a noite das facas longas”.
Merlim foi à Irlanda à procura de um círculo
de pedras que se cria terem poderes curativos se a água em
que fossem lavadas fosse usada no banho de doentes. Após
a batalha, Merlim reuniu as pedras e por magia atravessou a costa
até à Escócia.
Apesar das várias teorias sobre a formação
do Stonehenge, não há nenhuma que desminta o “dedo”
de Merlim na junção do mítico círculos
de menires.
E quem é Merlim? Era o conselheiro de Artur
(já o fora de seu pai), profeta e mágico, uma “criação”
de Geoffrey of Monmouth, que no século XII misturou uma personagem
de tradição escocesa chamada Myrddi com uma história
do século IX do cronista Nennius – assim nasceu Merlinus
ou Merdinus. No livro de Monmouth, Merlim é conselheiro de
Utário, mas não está associado a Artur.
A figura ultrapassou depois os limites da história
de Monmouth e Merlim tornou-se uma “personagem” muito
popular na Inglaterra medieval e, por conseguinte, em inúmeros
textos franceses e ingleses do século XIII.
A história? As aventuras dos cavaleiros da
távola redonda – Lançarote, Agravão,
Galvão, Belivério, Mordrete e Gallaz, que bebeu do
Santo Graal, a taça de Jesus Cristo, e, com os outros cavaleiros,
não descansou enquanto não encontrou o cálice
sagrado.
Este é o pressuposto da lenda de “Os
Cavaleiros da Távola Redonda”, o original e a versão,
adaptada e traduzida para português por Augusto da Costa Dias.
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