|
"O
Cão dos Baskervilles"
Por RAQUEL RIBEIRO
Nenhum policial seria bom se não houvesse
por trás uma interessante história de amor. De preferência
proibido, para que o crime tenha mais impacto. E de preferência
com muitos suspeitos, para que a investigação seja
sumarenta em factos, pormenores ou conjecturas. Para que a atenção
do leitor se mantenha presa até ao fim.
O “segundo” maior detective da Europa
é Sherlock Holmes. É mesmo Arhur Conan Doyle, o autor
de “O Cão dos Baskervilles”, uma das inúmeras
aventuras sobre o seu detective e o inseparável Dr. Watson,
que o diz.
— “Segundo?, estranhou Holmes, com certa aspereza.
— “Bem... no campo do raciocínio puramente científico,
o trabalho de Monsieur Bertillon tem um valor indiscutível...”,
responde o doutor Mortimer, que procurou Sherlock Holmes para investigar
um crime.
— “Nesse caso, não teria sido melhor o senhor
consultá-lo?”, pergunta Holmes.
Sherlock Holmes não gosta – como se
pode ver por esta conversa – de ser derrotado, nem de ser
passado para “segundo” plano. Por isso é que
diante de uma morte, tão misteriosa quanto suspeita, de Sir
Charles Baskerville (é o doutor Mortimer, médico do
falecido, que lhe explica que, ao que tudo indica, foi um cão
que matou o patriarca milionário), mesmo admitindo que há
crimes que, às vezes, são difíceis de resolver,
não desiste enquanto não encontrar o verdadeiro assassino.
Holmes nunca acreditou que um simples cão pudesse fazer tantos
estragos. E não seria agora uma lenda, sobre um cão
que ameaça os Baskervilles, que viria manchar a sua reputação.
“Tal como lhe disse, em Londres, meu caro Watson,
nunca tivemos inimigos mais perigosos, como este que, decerto, o
atoleiro de Grimpen sorveu para a sua pestilenta profundeza.”
Holmes envia Watson para o local do crime – Watson, o narrador,
é uma espécie de Sancho Pança do investigador
–, mas cedo se apercebe de que devia ter ido ele mesmo.
O crime é complexo: Sir Charles Baskerville
foi encontrado morto na charneca da sua propriedade no Devonshire.
O herdeiro, Henry Baskerville, chega a Londres, vindo do estrangeiro,
para tomar conta da enorme fortuna. Mas recebe uma ameaça:
“Se der valor à sua vida ou à sua sanidade mental
deverá afastar-se da charneca.” Watson vai para o Devonshire
com Mortimer e Henry Baskerville. E descobre: que o vizinho Dr.
Stapleton conhece como ninguém o pântano que existe
nas imediações da charneca (o tal atoleiro de Grimpen
de que falava Holmes); que a irmã de Stapleton é muito
atraente e logo se enamora de Henry Baskerville, sendo, por isso,
suspeita; que o mordomo é suspeito porque lhe mente; que
a mulher do mordomo é suspeita porque chora de noite e ninguém
sabe porquê; que há uma outra mulher, Laura, que pode
também ser suspeita porque, afinal, até tinha um caso
com Sir Charles.
Do enredo policial, cedo se passa ao enredo amoroso.
O diário de Watson é profícuo: ele diz a Holmes
que só lhe dá factos e que dispensa as conjecturas.
Porque é Holmes que vem ao Devonshire e soluciona o crime.
Haverá mesmo um cão dos Baskervilles? Alguém
se aproveitou da lenda para matar Sir Charles? Ou foi mesmo um cão?
Ou outro animal, transformado pelas lamas do atoleiro? Afinal, nem
todos os crimes são assim tão elementares.
Como Doyle “matou” Sherlock
O endereço de Sherlock Holmes, 221B Baker
Street, Londres, tornou-se uma das ruas mais famosas da literatura.
Isto porque Holmes cedo conheceu uma legião deseguidores
comonenhum outro herói da época.
A primeira história sobre Sherlock Holmes,
“A Study in Scarlet”, foi publicada em 1887. “The
Sign of the Four” foi escrita para a revista “Lippincott’s
Magazine”. Em 1891, a “Strand Magazine” começou
a publicar “As Aventuras de Sherlock Holmes”. Doyle
queria “matar” o seu herói, mas isso só
aconteceu em 1893, quando Holmes “morre” no “Final
Problem”. Os leitores reclamaram e a revista perdeu mais de
20 mil assinaturas. “The Hound of Baskervilles” foi
publicado em 1902, mas relata um caso antigo do detective entretanto
“falecido”. E foram os leitores que exigiram mais aventuras
– o autor escreveu depois “The Empty House” (1903).
|