Quarta-feira, 11 de Agosto


 

"As Aventuras de Tom Sawyer"
MARK TWAIN NO PLANETA DAS CRIANÇAS

Por DIEGO ARMÉS DOS SANTOS

Tom Sawyer corre, salta, joga ao berlinde, vai à escola e às aulas de doutrina, anda à pancada
e tem amigos, num turbilhão de aventuras que se desenrolam junto ao rio Mississípi, na pequena aldeia de Sampetersburgo, não muito longe de St. Louis. Este miúdo endiabrado e rebelde é educado pela Tia Polly. Com Tom, vive também o seu irmão, Sid, que se comporta de forma diametralmente oposta à de Tom, e Mary, uma rapariga um pouco mais velha, muito dada aos afazeres domésticos
e à prática religiosa. Tom é uma espécie de “degenerado” da casa. Talvez seja por isso que
a Tia Polly o estima tanto, embora por vezes não o demonstre, uma vez que a educação da altura não o permite e, sendo Tom uma criança tão difícil de tratar, acabe por tornar-se necessário castigá-lo
com alguma dureza.

Fora do núcleo familiar de Tom Sawyer existem, mais que tudo, os seus amigos. E, de entre estes, acompanham-no, acima de todos os outros, Huckleberry Finn ou apenas Huck, o miúdo vagabundo, e Joe Harper, uma espécie de alma gémea de Tom Sawyer, mas com menos carisma
e imaginação. Os três protagonizam a maior parte das aventuras, incluindo a estadia “pirata” na ilha de Jackson, um episódio magnífico em que Mark Twain, o autor (1835-1910, EUA), coloca os três petizes numa ilhota no meio do Mississípi, levando toda a aldeia a julgá-los mortos. Porém, a situação de maior relevo em todo o livro – uma espécie
de jogo do gato e do rato, no qual o gato é Joe,
“o Índio”, vilão temido, um homem sem sentimentos nem honra – tem como protagonistas Tom e Huck.

Para além destes dois companheiros de Tom, existem ainda Becky Thatcher e Amy Lawrence,
as duas concorrentes pelo coração do protagonista, embora a primeira leve clara vantagem em todos
os aspectos – e especialmente num: chegou de fora, de St. Louis, “a” cidade. No mundo dos adultos, figuram a bondosa e sociável viúva Douglas, o juiz Thatcher ou o professor de doutrina... uma galeria completa de personagens sociais, devidamente hierarquizadas, de forma a que se torne fácil compreender como funcionava uma pequena aldeia, perdida no meio do vasto território americano, em meados do século XIX.

A personagem de Tom Sawyer é uma espécie de sonho de infância: qualquer criança gostaria de ser um “Tom Sawyer”. Ele não tem medo de nada,
é forte, ágil, bom nadador, esperto, intimida os oponentes e é carismático e sedutor com quem
lhe agrada. Para o tornar ainda mais perfeito,
é perito em produzir disparates e acaba por
ver-se muitas vezes em situações embaraçosas – ou até perigosas... –, como qualquer criança
que se preze. Acrescente-se ainda que Tom
faz os possíveis por ser notado em todas as suas aventuras. Existe nele uma constante busca de glória. E esta glória consiste no seguinte: ser
visto como um herói; provocar a inveja nos seus companheiros; provocar a ira nos seus opositores; conquistar o coração das suas amadas; e ser admirado pelos mais velhos. Para obter tudo isto, Tom pode utilizar várias “estratégias”, desde ser dado como morto a enriquecer por encontrar um tesouro. Ou até fazendo coisas menores, como
uma sessão de cambalhotas, fumar cachimbo ou desafiar um “adversário” para uma luta mano a mano.

Para adultos que foram crianças

Mark Twain viaja até ao universo infantil recriando as brincadeiras e as travessuras dos miúdos. Mas não se esquece de reencontrar, por outro lado, a beleza e a ingenuidade que só uma criança pode ter. E Tom Sawyer, tal como o seu amigo Huck Finn, encarnam na perfeição essa ingenuidade: tudo neles é puro e espontâneo. Dos sentimentos que transparecem das suas atitudes, sempre repletas
de nobreza e humanidade, até às suas crenças e superstições, algumas delas simplesmente hilariantes, os dois miúdos transformam-se em seres humanos ideais: imperfeitos, mas com
bom coração.

A preocupação de Twain em enaltecer o que há de bom e puro no ser humano, isto é, nas crianças
que ainda conservam na sua essência a bondade
e a generosidade como valores maiores, de forma espontânea, é notória ao longo da obra. É fácil perceber a facilidade do autor em mergulhar no mundo agitado e livre (libertador?) dos infantes: todos os adultos já passaram por aventuras semelhantes ou por situações parecidas. Claro
que, no final, existem adultos que se lembram disso e existem outros que esquecem tudo e para quem o universo infantil se torna inacessível. Este livro é dedicado não só às crianças mas também – ou principalmente – aos tais adultos com boa memória e belas recordações dos seus tempos de criança.







Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.