“Tesouro
Escondido na Ilha de Monte-Cristo”
Por ANDRÉIA
AZEVEDO SOARES
Um romance histórico? Um
livro de aventuras? Uma história universal sobre a vingança?
Um texto com traços biográficos? Uma parábola
sobre a emancipação dos oprimidos? "O Conde de
Monte-Cristo", de Alexandre Dumas (1802-1870), admite muitas
definições. Ao longo desta obra escrita em 1845, dividida
nesta edição em dois volumes com mais de 700 páginas
cada um, há espaço para tudo isso e muito mais.
A ideia inicial do escritor era reconstruir a história
nacional francesa. O resultado ultrapassou em muito este objectivo.
Assim, os leitores ganharam não só uma narrativa que
recupera o período entre 1814 e 1838 - com avanços
e recuos de Napoleão até à Revolução
de Julho -, mas também a história de um homem que
toca o impossível. Da inocência à vingança,
passando pelo ódio e pela loucura, Edmond Dantés tem
a ousadia necessária para transpor obstáculos, encontrar
o tesouro da ilha de Monte-Cristo e, assim, destruir a vida dos
seus traidores.
Dantés enfrenta quase quinze anos de cárcere
por um crime que não cometeu. Por razões diferentes,
o pescador Fernand e o guarda-livros Danglars haviam forjado uma
denúncia contra este jovem (e promissor) marinheiro. Fernand
porque suspirava por Mercedes, então noiva de Dantés.
Danglars porque, após a morte do comandante do navio Pharaon,
aspirava ao posto vago que seria inevitavelmente atribuído
a Dantés.
Munidos pela inveja, Fernand e Danglars escrevem
uma carta anónima acusando o marinheiro de ser um agente
bonapartista. Apesar de falsa, a denúncia parece verosímil
aos olhos das autoridades. Isso porque Dantés, por ordens
do seu superior hierárquico, tinha feito uma paragem no arquipélago
de Elba para entregar uma carta. Ora, estas eram as ilhas onde estava
então exilado Napoleão.
Para ajudar à festa, Dantés depara-se
com o ambicioso Villefort após a sua detenção.
Este magistrado, preocupado em proteger o pai - o verdadeiro destinatário
da tal missiva -, contribui para que a sentença seja o mais
pesada possível. Ou seja, um bilhete só de ida para
o temido Castelo de If. Este rochedo, localizado a dois quilómetros
da costa de Marselha, realmente serviu de cárcere para criminosos
a partir do século XIV. Hoje é uma das atracções
turísticas dessa região francesa.
Condenado a viver isolado numa masmorra, Dantés
tem a sorte de, através de um túnel secreto, privar
com outro prisioneiro, o abade Faria. Esta amizade permite ao antigo
marinheiro planear o seu futuro para além daquela fortaleza.
O clérigo consegue proporcionar ao seu pupilo, que trata
como se fosse um filho, três diferentes formas de liberdade:
intelectual, física e, por fim, material. Além de
lhe mostrar o quão valioso é o conhecimento - e como
a ciência é capaz de preencher toda uma existência,
ainda que num cárcere -, o velho recluso entrega-lhe ainda
o mapa para encontrar uma arca repleta de diamantes e barras de
ouro.
Ao morrer, o abade Faria dá também
a Dantés a oportunidade de sair do Castelo de If sem grandes
dificuldades: ocupando o lugar do morto no saco funerário,
o jovem é lançado ao mar. Livre, rico e educado, Dantés
enceta a execução de um cuidado plano de vingança.
Mas isso já faz parte do segundo volume do livro, que chega
às bancas com o PÚBLICO na próxima quarta-feira.
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