Aventure-se no Deserto Rumo
às Minas de Salomão
Por Raquel Ribeiro

Será possível descobrir as minas de Salomão? "Onde são não sei. Sei apenas onde dizem que estão. Aqui há anos vi de longe os dois picos dos montes que, segundo corre, lhes servem de muralha. Mas entre mim e os montes, meus senhores, havia duzentas milhas de deserto. E esse deserto, meus senhores, nunca houve ninguém (quero dizer, homem branco) que o atravessasse", explica o aventureiro e caçador de elefantes em África, Alão Quartelmar, o narrador "queirosiano" deste romance, "As Minas de Salomão".

Ninguém sabe onde ficam essas minas, que escondem valiosas "arcas" de diamantes. Nem ninguém sabe de quem as tenha descoberto ou, até, de quem delas tenha saído com vida. Muitos se aventuraram para lá desse deserto e Quartelmar sabe várias histórias. Como a do português, José Silveira, que para lá foi e de lá voltou feito cadáver. Como a do pai do português, José Silveira com "Dom", o fidalgo que fez o mapa dessa zona além das montanhas. E o Silveira sem "Dom" disse, no delírio da morte: "Lá estão elas, Santo Deus lá estão elas!... E dizer que não pude lá chegar! Parecem tão perto! Logo ali, uns passos mais... E agora acabou-se, estou perdido, ninguém mais pode lá ir!" E deu a Quartelmar o segredo das minas.

O "nosso" herói já não é novo e já caçou muitos elefantes. "Mas, no fundo, sou um tímido que detesta violências e ando farto e refarto de aventuras." Mal sabia no que se ia meter quando conheceu o Barão Curtis e o capitão John Good.

Quartelmar sabe de outros que tentaram passar o deserto e entre eles está Neville e o seu "lacaio" negro, Jim. Neville é irmão do barão Curtis. "Sr. Quartelmar, vim a África procurar meu irmão. Desde que alguém o viu, pondo-se em marcha para as serras de Suliman, o que devo a mim mesmo é marchar também para esse lado (...) E agora pergunto eu: quer o Sr. Quartelmar vir comigo?"

Partem à procura de Neville. Há um som que vem das entranhas da terra, lajes "ocas", pequenas brisas, tectos, paredes e chãos falsos. Serão diamantes brancos? Será a bruxa Gagula tão má como se diz (e o português disse "quem vier que mate Gagula")? Encontrarão Neville, qual Robinson Crusoe, a viver nas misteriosas minas? Isso será o leitor a descobrir.

Um aparte: o romance "não" é de Eça de Queirós, é uma tradução "livre", por Eça, do romance original do britânico Rider Haggard, que escreveu "King Solomon's Mines", em 1885, à "maneira" de "A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson. Mas aqui sente-se "a mão" de Eça. E o que poderia ser uma simples tradução, torna-se num "romance queirosiano", com o estilo fluente e prolífico de Eça - a deliciosa "traição" é a possibilidade de "esquecer" Haggard e embarcar no universo de Eça.



Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.