Embarque no Pequod e n ão desista enquanto não encontrar Moby Dick, a baleia branca

Ismael quer voltar ao mar. É uma forma de fugir ao suicídio "com um gesto filosófico", diz. Mas não num navio qualquer. Quer partir para a pesca da baleia. Há vários motivos, mas um dos primeiros, explica, "foi a prodigiosa imagem da própria baleia; esse monstro, tão portentoso e enigmático, despertava a minha curiosidade".

O leitor depressa simpatizará com este rapaz. Será já, talvez, um homem feito, mas nunca se saberá a sua idade ao longo de todo o livro, "Moby Dick", de Herman Melville. Não interessa. Porque Ismael é apenas um narrador, ilustre, inteligente, cheio de humor e fina ironia, pronto a deleitar-nos com os pormenores mais deliciosos, as histórias mais incríveis, os temores e a coragem dos bravos marinheiros, as pequenas vinganças, as grandes conquistas, as insólitas amizades.

Isto é "Moby Dick" - como descrevê-lo em tão pouco espaço? São mais de 800 páginas, sim, mas cheias de histórias espantosas, que apaixonam o leitor mais incauto, mais alheio a essas andanças dos mares. Porque "Moby Dick" não é (apenas) um romance, é (quase) uma epopeia, um poema heróico, quase camoniano, um hino à coragem e à grandeza dos homens.

Ismael está em Nantucket, a terra de onde partem os grandes baleeiros americanos, e conhece Queequeg, um monstro selvagem, um canibal. A vida de Isamel esteve por um fio. Mas a convivência provou que Queequeg é um canibal amavável e dócil, e depressa entre eles nascem a ternura e a amizade.

Embarcam no Pequod à caça da baleia. Cedo perceberão que não entraram num navio qualquer - o Pequod é o barco do capitão Ahab, sobre quem se conta a história de que uma enorme baleia branca lhe arrancou uma perna.

Ahab, "mordido na carne e lacerado no espírito", é um homem solitário que quer vingar a afronta desse monstro horrível - Moby Dick. "Se avistarem uma baleia branca, berrem até rebentar as goelas!", grita aos marinheiros.

A lenda diz que Moby Dick "não só é ubíquo, mas também imortal (a imortalidade nada mais sendo que a ubiquidade referida ao tempo); que embora se cravem nos seus flancos canteiros de arpões, a baleia se afastará ilesa; e que, mesmo na hipótese de alguma vez o seu jacto surgir manchado de sangue, isso não passaria de outra decepção porque cem léguas mais adiante Moby Dick voltaria a lançar para os céus um repuxo límpido e cristalino como a água que brota numa nascente de montanha".

O grande oceano é como uma estrada medieval, cheia de salteadores, mas também de velhos conhecidos. E assim o Pequod se vai cruzando com outros navios, como o Albatroz, o Botão de Rosa, o Jungfrau, o Samuel Enderby, o Celibatário ou o Raquel. Todos trazem histórias e lendas de percursos feitos, homens que se perderam, naufrágios e mortes, tragédias e reencontros. Todos trazem novas de Moby Dick. E Ahab escuta-as, atento e ansioso por travar esse combate. Ele (ou será ela?) "encena" esse jogo de atracção-repulsa, a vingança última da sua honra perdida. Quem vencerá o duelo homem-natureza?

 



Livros que nos transportam para o plano da aventura da fantasia, da descoberta e da ficção, apelando à imaginação de cada leitor para criar as imagens, as personagens e os cenários.