Embarque no "Hispaniola" a Caminho da Ilha do Tesouro
"Quinze homens empilhados na mala do morto...
Iou-ou-ou... e uma garrafa de rum!"
Um mapa cheio de indicações misteriosas, descoberto por acaso no baú de um velho lobo-do-mar fulminado por uma apoplexia. Uma ilha distante onde o pirata mais sanguinário que jamais cruzou os mares enterrou um fabuloso tesouro, depois de ter morto todos os seus companheiros. Um esqueleto que aponta a direcção. Um pirata só com uma perna e um papagaio empoleirado no ombro.
Uma aventura cheia de lugares-comuns? Precisamente o contrário: "A Ilha do Tesouro" é o arquétipo dos romances de piratas, o lugar de origem de onde partem todos os outros e é por isso que tudo nele é tão familiar. O que não quer dizer que Robert Louis Stevenson (1850-1894) tenha inventado todos os pormenores da acção. O pai costumava ler-lhe livros de aventuras quando era pequeno e Stevenson foi certamente buscar inspiração e ideias a esses relatos de infância. Mas foi o relato da Ilha do Tesouro, com Long John Silver de perna de pau, tricórnio na cabeça e duas pistolas à cinta que entrou na memória colectiva e marcou gerações de jovens leitores. É quase impossível contar as adaptações de que o romance foi objecto, de tão numerosas, da televisão ao cinema e da banda desenhada ao teatro.
"A Ilha do Tesouro" nasceu de um jogo que Stevenson, então com trinta anos e já um escritor reconhecido na sua Escócia natal, inventou para brincar com o enteado Lloyd.
O jogo tornou-se uma aventura escrita, mas de início Stevenson nem sequer a destinava ao prelo. Foi um amigo quem o convenceu a enviá-la para uma publicação juvenil, "Young Folks", onde começaria a ser publicada em Outubro de 1881, sob a forma de folhetim e com um título bem diferente: "O Cozinheiro" ("The Sea-Cook").
A escrita do livro foi iniciada na Escócia e concluída em Davos, na Suíça, onde a tuberculose que o perseguiu toda a vida tinha obrigado Stevenson a refugiar-se para tratamento. Se a acção frenética do livro constituiu uma evidente compensação para a fragilidade física do seu autor, a intrepidez e a juventude do seu herói é a chave do seu sucesso junto dos rapazes - ou não tivesse ele sido imaginado precisamente para cativar um deles.
Paralelamente ao seu esmagador êxito popular, o livro (e Stevenson) foi criticado por alguns pela sua ausência de reflexão e de dimensão moral, mas é precisamente isso que faz o encanto de "A Ilha do Tesouro": o relato é pura acção. Não é possível para um adolescente ler "A Ilha do Tesouro" sem vestir a pele de Jim Hawkins, sem tremer sob as ameaças de Bill Bones, sem provar o sabor da espuma do mar nos lábios e correr pelo convés do "Hispaniola" para libertar a escuna dos piratas.
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