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OLHA DAISY...

Tens a inocência - o que queres mais?
Tens os cabelos louros, os movimentos ágeis.
O calor ainda feminino, o riso inconsciente e casto,
- e tens, de tudo isso, o mistério do futuro que não
sabes.
Tens o teu nome, a cor, a terra onde nasceste,
a vil hipocrisia à tua volta,
um conhecimento, infantil, do Mundo
- o Mundo traga-te, verás.-
E tens, tu, o condão de espalhar à tua volta:
um sentimento, antigo, de perdão,
um desejo, talvez, de amor fraterno,
a nostalgia de não ter um filho.
És aquilo a que eu chamo um bom rapaz.
Um garoto feliz.
Tens a possibilidade, em ti, de deixar em suspenso,
em nós, uma carícia, um beijo, um hálito simples
de ternura humana.
A quase alegre, quase!, convicção de que a Vida
não é assim tão feia e temerosa
como se diz -:
e pode ser feliz!
À falta de melhor, de mais meu, para te dar:
-:dou-te amêndoas, - doces!, em domingo de
Páscoa.
Eu sei que tu as comes deliciado como
eu as comia em criança...
Adeus.
Não olhe, Daisy.
A vida é turva.

E chove,
chove continuamente...

Domingo de Páscoa de 1969.

RAUL DE CARVALHO
in "Tudo é Visão"
Ed. do Autor, 1970
58 páginas
Esgotado

 

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