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DOIDO VARRIDO
DOIDO
VARRIDO
O Poeta passa frio,
passa frio e passa fome.
No entanto, os dias consome
a cantar ao desafio,
ao desafio consigo,
sentado no botequim.
A conversa não tem fim,
não tem fim e não tem nome,
decorre sem alarido...
O Poeta é doido varrido
doido varrido isso sim!
Tantas vezes que ele morre
e outras tantas ressuscita!
Mas ressuscita pior.
Como um menino travesso,
volta as coisas do avesso
para as conhecer melhor.
E às vezes, tomba no chão
porque um intenso clarão
o assombrou de repente.
No meio da multidão
fica só, indiferente.
Indiferente com todos,
quer estranhos ou amigos.
Indiferente aos perigos
leva a vida sem maus modos.
Mas por que estranho desígnio
ele tem a pretensão
de aquele intenso clarão
ser um sinal lá dos céus,
e de, no meio do assombro,
pressentir a mão de Deus
tocar-lhe amiga, no ombro?
SAÚL DIAS
in "Essência"
Brasília Editora,
1973
276 páginas
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