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logo-poema-texto-vertical.gif (1150 bytes) JUÍZO ANATÓMICO [...]

JUÍZO ANATÓMICO DOS ACHAQUES QUE PADECE O CORPO DA REPÚBLICA EM TODOS OS SEUS MEMBROS E INTEIRA DEFINIÇÃO DO QUE EM TODOS OS TEMPOS É A BAHIA

Que falta nesta cidade? Verdade.
Que mais por sua desonra? Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.

O Demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra e vergonha.

Quem a pôs neste necrócio? Negócio.
Quem causa tal perdição? Ambição
E no meio desta loucura? Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu
Que não sabe o que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são seus doces objectos? Pretos.
Tem outros bens mais maciços? Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos? Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos? Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas? Guardas.
Quem as tem nos aposentos? Sargentos.

Os círios lá vêm aos centos,
E a terra fica esfaimando
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que justiça a resguarda? Bastarda.
É gratis distribuída? Vendida.
Que tem que a todos assusta? Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça,
Bastarda, vendida, injusta.

GREGÓRIO DE MATOS
in "Gregório de Matos, de Maria de Lurdes Teixeira"
Ed. Martins (São Paulo), 1972
175 páginas

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