Colapso das negociações
de paz na Colômbia
Por Fernando Sousa
Segunda-feira, 14 de Janeiro de 2002
O Governo colombiano deu sábado
à noite o prazo de 48 horas às Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)
para abandonarem a área que ocupam por comum acordo
desde 1999 no Sul do país, depois de rejeitar, no último
minuto, uma proposta sua para a retomada das negociações
de paz. Em banho-maria devido ao diálogo, a guerra
pode voltar agora a qualquer momento.
O ultimato governamental foi feito pelo Presidente Andrés
Pastrana, que disse, num tom grave, que o tempo "corre
contra os rebeldes" das FARC.
Horas antes, o mandatário tinha-lhes dado até
às 2h30 para regressarem incondicionalmente à
mesa das negociações ou incorrerem na expulsão,
pela força, daquele território, de 42 mil quilómetros,
tão grande como a Suíça.
Os guerrilheiros tinham condicionado o seu regresso à
mesa das negociações à aceitação
pelo Governo de uma proposta de 14 pontos, discutida durante
dois dias, em Los Pozos, uma localidade situada naquela área,
com um enviado da ONU, James LeMoyne. Mas o chefe de Estado
considerou "insuficientes" as ideias do pacote em
relação a assuntos tão fundamentais como
o fim da estratégia de raptos seguida pelas FARC.
Pastrana deixou no entanto aberta uma pequena janela aos rebeldes
dirigidos pelo mítico Manuel Marulanda, sugerindo-lhes
um gesto "significativo" dentro do prazo do ultimato
de modo a poder ordenar o regresso dos soldados aos quartéis.
"Os colombianos querem resultados concretos. Só
uma clara declaração pública pode parar
o relógio", disse Andrés Pastrana.
Para o correspondente da BBC em Bogotá, Jeremy McDermott,
o processo de paz colombiano, iniciado há três
anos, está simplesmente morto. E jornalistas estrangeiros
viram sinais de que o conflito quer regressar.
Forças rebeldes estão a movimentar-se na região
de San Vicente del Caguan, conforme testemunharam repórteres
citados pela estação de rádio britânica.
Os efectivos da guerrilha são estimados em 16.500 homens.
Ao mesmo tempo, tanques e tropas governamentais começaram
a movimentar-se em direcção à área
que o Governo cedeu às FARC
como penhor da sua boa vontade negocial.
Muitos civis estavam também a preparar-se para abandonar
as casas e as terras onde viveram em relativa paz desde Janeiro
de 1999. O diário colombiano "El Mundo" previa
o início das hostilidades para dentro de poucas horas.
Porém um dos comandantes rebeldes, Andres Paris, disse
que as suas forças abandonarão e entregarão
pacificamente a zona se o processo de paz falhar realmente.
O que estava iminente, senão consumado.
"Este é o momento em que se define o futuro da
Colômbia, entre a esperança da paz e o caminho
para a guerra sem negociações", declarou
LeMoyne. Como se houvesse alguma hipótese ainda de
o relógio parar e da brutalidade colombiana, com 37
anos e 200 mil mortos, não seguir o seu curso.
Muito brevemente, entre 12 mil e 13 mil homens poderão
receber ordem de avançar sobre o enclave, de acordo
com um plano de batalha definido nos últimos dias pelos
generais do alto comando colombiano com base em informações
fornecidas também pelos Estados Unidos.
De acordo com a imprensa colombiana, Washington forneceu nas
últimas semanas a Bogotá informações
fundamentais, por exemplo sobre infraestruturas. como fábricas
de armamento, depósitos de armas e pistas de aviação
clandestinas, camufladas pelas FARC
na zona desmilitarizada.
Segundo os norte-americanos, que contribuiram para o Plano
Colômbia, destinado a erradicar as plantações
de coca, com 1,3 mil milhões de dólares, a guerrilha
comunista colombiana disporá ainda pelo menos de quatro
mísseis SAM-6 e teria recebido nos últimos meses
vários carregamentos de armas, incluindo 10 mil espingardas
MK-47.
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