Câmara em directo de Cannes
Por Vasco Câmara
Quinta-feira, 17 de Maio de 2001


João Canijo na imprensa

Para a revista americana Variety, "Ganhar a Vida", de João Canijo, exibido em Cannes na secção Un Certain Regard, "é admirável na forma como deita abaixo os estereótipos que às vezes são usados para ajudar à compreensão". É "um filme muito discreto que aos poucos se começa a agigantar, à medida que a sua personagem central, uma mulher da limpeza portuguesa a residir em França (Rita Blanco), assume proporções de tragédia grega". E destaca a actriz, a forma como cria "a personagem complexa de uma mulher a lutar consigo mesma e contra a sociedade que a rodeia".
O diário francês "Le Monde" enaltece "a vontade manifesta no filme de fazer existir no espaço público a história de uma comunidade há muito tempo instalada em França, e a sua marginalização social". E conclui: "é um filme singular e sedutor". Já o diário italiano "Il Manifesto" chama a "Ganhar a Vida" um "fado reescrito como um 'rap' de subúrbio". "As imagens descarnadas entram pela realidade e capturam-na melhor que muitas reportagens sobre a periferia", conclui.

"Trouble Every Day" causa desmaios

Não terá sido por falta de informação sobre o carácter impressionante de algumas cenas de "Trouble Every Day", da francesa Claire Dennis - apresentado no Palácio dos Festivais em sessão oficial à meia-noite, horário prudente -, mas o filme perturbou o público de tal forma que houve relatos na imprensa de desmaios de duas espectadoras.

Nesse momento, no ecrã, uma mulher (Béatrice Dalle) estava a começar a devorar um homem. "Trouble Every Day" é uma incursão de Dennis (a autora de "Nénette et Bonnie") no género de terror, contanto a história de dois seres (interpretados por Dalle e por Vincent Gallo) que carregam um fardo: o desejo físico só se satisfaz com o sabor da carne. É, além disso, uma história de amor, sombriamente romântica, com música assinada pelos Tindersticks.

 

Isabelle Huppert e Bach

"Bach é a prova da existência de Deus", podia ler-se ao longo do braço de Isabelle Huppert, quando a actriz subia a escadaria vermelha do Palácio dos Festivais, na segunda-feira, para a sessão de gala do filme de Michael Haneke, "La Pianiste". Original forma de promoção deste filme em que a música é, simultaneamente, presença anjelical e demoníaca. Huppert interpreta Erika, professora de piano no conservatório de Viena, para quem Bach é, de facto, o céu. Mas essa é toda a sua vida, essa é a sua prisão. O único escape desse atrofiamento emocional é o imaginário mórbido onde Erika se refugia, os cinemas porno, os "peep shows", e os rituais masoquistas de auto-mutilação a que se dedica. É uma interpretação superior da actriz, que é favorita ao prémio de interpretação feminina.

 

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