Câmara em directo de Cannes
Por Vasco Câmara
Terça-feira, 15 de Maio de 2001


Sean Penn, o existencialista

Sean Penn contou numa entrevista que quando esteve preso levou para o cárcere uma recolha dos ensaios de Montaigne. Encontrou neles o conforto. Não faz as coisas por menos... Como realizador, "artista", quer, é claro, colocar-se na fila dos "insubmissos", que são, ou foram, seus amigos, de Bukowski a Cassavetes, de Dennis Hopper a Marlon Brando, lista que, acredite-se ou não, (ainda) é hoje a hipótese americana para "rebeldia".

Os franceses adoram isso, e adoram quando os americanos gostam de fazer à europeia, porque para eles é fazer à francesa. Isso explica o entusiasmo que precedia "The Pledge", terceira longa-metragem de Penn (em competição para a Palma de Ouro), que adapta uma novela do suíço Friederich Durrenmatt. Um polícia na reforma (Jack Nicholson) adia a sua retirada quando é encontrado o cadáver de uma menina, e ele promete à mãe da vítima descobrir o violador e assassino. Não vai ser um "quem matou" que salta à vista. Penn satura os planos de histerização "lírica", para assinalar que não interessa o assassino mas o inquiridor; e que não é "thriller", mas uma via sacra "existencialista", um filme sobre a moral e o destino - Nicholson, em nome do Bem, quase chega a causar o Mal... Há Nicholson, Robin Wright Penn, Sam Shephard, Vanessa Redgrave, Benicio del Toro, Mickey Rourke, Harry Dean Stanton, e outros individualistas e fazedores do seu próprio destino, que aqui fazem, cada um, o seu "número".

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