Câmara em directo de Cannes
Por Vasco Câmara
Segunda-feira, 14 de Maio de 2001


Oliveira na imprensa

"Je Rentre à la Maison" e "The Man who wasn't There" foram exibidos no mesmo dia na competição de Cannes, e se o despique fosse só entre os dois, o resultado seria este: o português Oliveira: 1 - os americanos irmãos Coen: 0. Isto, segundo o veredicto humorístico do colunista da revista Film Français de ontem, no seu diário do festival. Chegava a dizer "que este jovem Oliveira merecia a Câmara de Ouro" - que é o prémio para os estreantes - enquanto Joel e Ethan Coen não puderam evitar ter feito figura "de velhos". Para a revista americana Variety, "Je Rentre à la Maison" "é um dos mais acessíveis filmes do repertório recente de Oliveira", e destaca a interpretação de Michel Picolli na figura de um velho actor francês que decide renunciar à sua carreira.

Segundo a Variety, Piccoli será sempre um nome a considerar quando se pensar em prémios de interpretação. Para o diário francês Libération, o cineasta português "parece como nunca possuído pelo desejo de inventar formas surpreendentes para o cinema". "Por isso esperamos que Oliveira, contrariamente à personagem do seu filme, o actor que renuncia, não tenha decidido ir para casa".

O diário Figaro fala numa "espiritual melancolia" e na perfeita cumplicidade entre Oliveira e Piccoli" que "manejam a dor com prudência". "É muito elegante", conclui.

Roberto Succo: O assassino dos olhos claros

Matou os pais em Veneza, aos 19 anos. Cinco anos depois, em 1986, semeava mortes na Côte D'Azur. Era italiano, chamava-se Roberto Succo. Há um livro que é um inquérito para chegar a um impossível retrato robot - impossível porque Succo não premeditava, os actos eram uma agitação do caos, deslizes inexplicáveis da razão.

Por breves momentos, conquistou aura política. Tudo porque um dia subiu ao telhado da prisão e gritou contra Itália, o imperialismo, a mafia. Mas isso foi tão aleatório como as mortes. Suicidou-se em 1988 na prisão.

O dramaturgo Bernard-Marie Koltés escreveu uma peça, apropriando-se dele como um mártir "à la Genet". Foi retirada de cena, por pressão da polícia que prendeu Succo e dos familiares das vítimas, que acusaram Koltès de mitificação. Cédric Khan faz agora um filme, baseando-se no livro, de Pascale Froment, que tentou esse retrato-robot e que assume como referência "A sangue frio", de Truman Capote. A proposta de Khan, em "Roberto Succo" (em competição para a Palma de Ouro), foi a aproximação à loucura, observar os actos pelos quais ela se revelou, recusar a "identificação" com a personagem. E tem uma presença absolutamente sedutora de um estreante, Stefano Casseti (recrutado algures numa esplanada de Paris), que faz este assassino de olhos claros.

 

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