SERIE Y I    SERIE Y II   SERIE Y III ARTIGOS    FOTOS

"Simplesmente Genial", na Série Y
Quarta-feira, 7 de Abril de 2004
Por VASCO T. MENEZES

O jovem australiano David Helfgott é uma criança-prodígio com especial apetência para a matemática, o xadrez e o piano. No entanto, vive uma infância à sombra da influência dominadora do pai - um judeu de origem polaca que fugiu para a Austrália e perdeu grande parte da família no Holocausto. Peter protege excessivamente o filho e impede-o de aceitar uma bolsa de estudo oferecida pelo conhecido violinista Isaac Stern.

Passado algum tempo, surge uma nova oportunidade para estudar no estrangeiro e, em claro desafio à autoridade paterna, David parte para Londres, onde prossegue a aprendizagem musical com uma breve passagem pelo Royal College of Music, às ordens de um lendário professor, Cecil Parks. Mas apesar de todo o seu talento, a forma obsessiva como se dedica ao piano leva-o a desligar-se da realidade que o rodeia. Separado da família e amigos, tem um esgotamento nervoso e acaba por sofrer um colapso em pleno palco, após uma interpretação triunfante do "Concerto Para Piano nº 3" de Rachmaninov.

Com a saúde mental em perigo e obrigado a regressar ao país natal, passa os dez anos seguintes em várias instituições, onde os tratamentos se vão sucedendo. Apesar de a irmã o visitar, o pai comporta-se como se o filho estivesse morto. E como se isso não bastasse, David é proibido de tocar piano, sob pena de se excitar em demasia. Mas as coisas começam a mudar quando uma nova amizade, entretanto formada, evolui para um inusitado romance e o caos da sua vida parece, pela primeira vez, dar lugar à estabilidade.

Depois de um trio de campeões de bilheteira "made in USA", a série Y Parte IV viaja até à Austrália, para apresentar "Simplesmente Genial/Shine" (1996), uma pequena produção que se tornou um inesperado êxito, comercial e de estima. Com um orçamento de cinco milhões de dólares, o filme obteve receitas que ultrapassaram em dez vezes o seu custo, tendo dominado também, em todas as categorias principais, os prémios da indústria cinematográfica australiana. Além disso, conseguiu ainda ser nomeado para sete Óscares e cinco Globos de ouro.

O protagonista, Geoffrey Rush, acabou mesmo por ser distinguido pela Academia como Melhor Actor, garantindo assim o passaporte para Hollywood, num percurso - do anonimato à projecção internacional - em tudo idêntico ao do realizador, Scott Hicks. E a composição do intérprete principal - bem secundado por um John Gielgud, Armin Mueller-Stahl e Lynn Redgrave - é não só o maior trunfo como a força motriz de um filme que, seguindo o modelo do drama biográfico, acompanha um percurso tortuoso e procura dar a ver a singularidade de uma personagem real.