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SerieY 3
"O Barbeiro"

"O Barbeiro", de Joel e Ethan Coen, na Série Y
Por VASCO T. MENEZES

 

1949. Numa pequena cidade no Norte da Califórnia, Ed Crane (Billy Bob Thornton) trabalha na barbearia local. Não por vocação, mas por laços familiares: o cunhado, Frank (Michael Badalucco), herdou o negócio do pai, barbeiro durante 35 anos, falecido em plena actividade.

 

A vida de Ed não é das mais entusiasmantes: casou com Doris (Frances McDormand), uma contabilista que conheceu num "blind date", e a interacção do casal quase se resume às idas ao bingo semanais. Apesar de insatisfeito com uma existência mundana, a passividade deste relutante barbeiro é tal que nem sequer é capaz de verbalizar essa angústia. Monossilábico e de olhar vazio, sempre com um cigarro a cair do canto da boca, é quase um "peso morto", alguém que de facto "não está lá" (na verdade, a maioria das pessoas nem o reconhece fora da bata de serviço).

 

Mas, um dia, Creighton Tolliver (Jon Polito), um empresário de passagem pela cidade, atravessa-se-lhe no caminho e Ed pensa ter descoberto a solução para mudar de vida e ser alguém. Tolliver procura um sócio que possa contribuir com 10 mil dólares e impulsionar uma invenção revolucionária: a limpeza a seco. Ed aceita a proposta e, para obter a quantia necessária, lembra-se de chantagear "Big Dave" Brewster (James Gandolfini, o Tony Soprano de "Os Sopranos"), patrão de Doris num armazém de venda a retalho. Como motivo de chantagem, resolve apostar na já antiga suspeita de que Doris e "Big Dave" mantêm um caso amoroso (algo que, realce-se, não lhe motivara até aí qualquer reacção, porque "afinal, estamos num país livre").

 

Só que as coisas não correm como planeado: Tolliver desaparece com o dinheiro conseguido pelo fanfarrão "Big Dave", que, entretanto, descobre todo o esquema e acaba morto. Na manhã seguinte, Doris é acusada do crime e os azares de Ed apenas começaram...

 

Depois de "Fargo" (1996), "O Grande Lebowski" (1998) e "Sangue Por Sangue" (1984), o cinema de Joel e Ethan Coen volta à série Y com "O Barbeiro" (2001). Tal como nos anteriores, também aqui os irmãos continuam às voltas com a tradição e memória do seu género de eleição, o "film noir". E, neste caso, o jogo de sinais vai ainda mais longe, apostando a dupla numa recriação mimética e formalmente irrepreensível (recebeu o prémio de melhor realização em Cannes) do universo negro do cinema americano dos anos 40, da estilizada fotografia a preto e branco à narração em voz "off".

 

E se os maiores louvores vão para o magnífico Thornton, num controladíssimo registo minimalista, importa não esquecer o grupo de secundários, entre eles, como "pseudo-Lolita", Scarlett Johansson, a nova "menina bonita" de Hollywood (conferir em "Lost in Translation" e "Rapariga com Brinco de Pérola", ambos em exibição).