“O Túnel”, de Ernesto Sábato

O romance do escritor argentino integra-se formalmente no cânone romanesco existencialista, mas tem a singularidade de escapar ao gélido e apocalíptico negativismo sartriano

Por Eduardo Dâmaso

O romance do escritor argentino integra-se formalmente no cânone romanesco existencialista, mas tem a singularidade de escapar ao gélido e apocalíptico negativismo sartriano.

Poucos anos depois de Ernesto Sábato ter escrito “O Túnel” tornouse uma banalidade dizer que Buenos Aires deu ao mundo três geniais escritores: Jorge Luis Borges, Júlio Cortázar e Ernesto Sábato. Assim que publicou “O Túnel”, aquela que é considerada a sua obra-prima, Sábato, que é um homem de formação científica na área da física e nunca se tinha aventurado, até aí, de forma decidida pelos terrenos da literatura, foi recebido em ombros por nomes ilustres das letras e do pensamento filosófico. “O Túnel”, publicado pela primeira vez em 1948, teve aplausos tão distintos e tão ilustres como os de Thomas Mann, Albert Camus e da generalidade da crítica literária da época.

Com o mundo em carne viva devido aos horrores da II Guerra Mundial, o escritor argentino propôs na sua novela um verdadeiro ensaio filosófico sobre a morte e o amor, que atinge uma tensão narrativa e emocional de grande intensidade.

O romance percorre o labiríntico drama interior de três personagens que buscam um caminho para a compreensão do homem e do que o rodeia, centrado na personagem Juan Pablo Castel. É um livro que se integra formalmente no cânone romanesco existencialista, mas tem a singularidade de escapar ao gélido e apocalíptico negativismo sartriano.

Sábato nasceu em Rojas, na província de Buenos Aires, em 1911. Fez o seu doutoramento em Física e cursou também Filosofia na Universidade de La Plata. Chegou a trabalhar no Laboratório Curie, em Paris, mas abandonaria a ciência definitivamente em 1945 para se dedicar exclusivamente à literatura.

Proveniente de uma família rural, militou na juventude comunista desde 1935, para onde foi empurrado aos 24 anos pela ditadura do general José Félix Uriburu. Esta opção política impôs-lhe a clandestinidade e o conhecimento da miséria, já que a sua vida se transferiu para tudo o que era subúrbio das grandes cidades argentinas, em particular de Buenos Aires, onde se amontoavam as hordas de deserdados e perseguidos pelo regime.

Sábato viria pouco tempo depois a romper com a organização comunista quando, já na Europa, confirma todas as dúvidas que o atormentavam sobre o estalinismo. As dúvidas que começaram a emergir ainda na Argentina foram a razão da viagem que empreendera, por ordens do partido, em direcção a Moscovo, onde seria objecto de uma “purificação” ideológica. O escritor parou então em Bruxelas para participar num congresso contra o fascismo e aí ficou a conhecer em pormenor os chamados “Processos de Moscovo”. Fugiu para Paris, e foi perseguido pelo partido na capital francesa, mas conseguiu voltar à Argentina para completar os estudos em Física e Matemática.

    
   

 
Ernesto Sábato