“Ernesto
Sábato é um homem perdido no seu
labirinto interior, um anjo-demónio que não
conhece a felicidade e que admira, sobre todas as coisas,
a coragem e a lealdade. Odeia escrever. Ri-se do ‘boom' da
literatura sul-americana. E teme que as suas ideias se vulgarizem”,
escreveu Isabel Allende.
Romancista e ensaísta argentino,
Sábato nasceu
em 1911 em Rojas, Buenos Aires. Estudou Física e Matemática
na Universidade de La Plata. Nos anos 30, militou na Juventude
Comunista . Então começaram as dúvidas
sobre o estalinismo: “Resolveram mandarme para as Escolas
Leninistas de Moscovo, para me purificar”, conta. Refugiou-se
em Paris .
Regressou à Argentina . Mas recebeu uma bolsa
para trabalhar nos laboratórios Marie Curie, em França.
Em Paris conviveu com os surrealistas . Foi uma experiêncialimite: “Um
dia de Inverno, fui com Óscar Domínguez [pintor
surrealista espanhol] ao ‘marché aux puces'. Na rua,
Domínguez deteve-se e perguntou-me: ‘Que te parece
se esta noite nos suicidarmos juntos?' Não era uma
piada. Neguei-me, ainda que me atraísse o suicídio.
Salvou-me o instinto”, disse.
Regressou à Argentina em
1940, como professor da Universidade de Buenos Aires. Em 1945,
publicou artigos em “La
Nación” atacando Perón , o que o obrigou
a abandonar o ensino. Desse ano “sabático” forçado
resultou o livro “Uno y El Universo” (1945), compilação
de artigos políticos e filosóficos. O primeiro
romance “O Túnel”, de 1948, é consequência
de inquietações existenciais .
“Sobre
Héroes y Tumbas” (1961) consagrou o autor
e é considerado o melhor romance argentino do século
XX. Continuou a reflectir sobre o homem em “Abaddón,
el Exterminador” (1974), de cariz autobiográfico.
A defesa da democracia e dos direitos humanos está presente
em ensaios como “El Otro Rostro del Peronismo” ou “Torturas
y Libertad de Prensa”.
Em 1985, presidiu à Comissão
Nacional que publicou o relatório “Nunca Más” sobre
a repressão
dos governos militares na Argentina de 1976 a 1983. Reflectiu
sobre a literatura nos ensaios “El Escritor y Sus Fantasmas” (1963)
e “Aproximación a la Literatura de Nuestro Tiempo:
Robbe-Grillet, Borges, Sartre” (1968). Foi Prémio
Cervantes em 1984. A perda progressiva da vista afastou-o
da escrita, ainda que tenha descoberto a pintura, a que dedica
grande parte do seu tempo.
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