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"Nada do Outro Mundo",
de
Antonio Muñoz Molina
É a luta de um homem contra um peixe, um exemplo da inexorabilidade da dignidade humana. "O mundo do livro é o da reconciliação",
explicou um dia o escritor
Por Eduardo Dâmaso
O livro "Nada do Outro Mundo" é um bom exemplo da versatilidade narrativa de Antonio Munõz Molina. Trata-se de um conjunto de doze histórias, mas seria uma simplificação excessiva dizer que estamos perante doze contos. Na verdade, a história que dá título ao livro, "Nada deste mundo", tem todas as características de um romance, ao passo que as restantes onze são verdadeiramente contos. Todo o percurso literário de Antonio Muñoz Molina é isso mesmo: um permanente exercício de estilos e de géneros, uma navegação constante entre o romance e o conto, a crónica e a aproximação pontual à escrita jornalística da reportagem.
Mais recentemente, o autor granadino deu-nos mesmo peças notáveis dessa sua capacidade de metamorfose permanente ao editar, num relativo curto espaço de tempo, livros como "Plenilúnio" e "Sefarad", "Na Ausência de Blanca" e "Carlota Fainberg". Se os primeiros são romances de grande densidade psicológica e histórica, narrados com a arte de quem sabe que a literatura não é só um instrumento para perscrutar os caminhos da alma humana, mas também deve encantar o leitor, os segundos são novelas curtas que nos revelam a sua capacidade de condensação.
"Na Ausência de Blanca", livro escrito por encomenda para o diário "El País", é mesmo um monumento de condensação da escrita e de toda a arte de bem contar uma história. Por seu turno, a obra "Nada do Outro mundo" foi uma espécie de laboratório iniciático dessa escrita suspensa na atracção da incerteza, contida mas poética e reflexiva, que viria a consagrar-se plenamente no livro "Na Ausência de Blanca", uma belíssima história de amor contada sem lirismos excessivos e ao mesmo tempo uma cirurgia implacável desse estado letárgico que está para lá de qualquer racionalidade.
Com uma distância de dez
anos entre os momentos em que escreveu o conto mais antigo
e o último de "Nada do Outro Mundo", este é um
livro que Antonio Muñoz Molina foi trabalhando quase
sem dar por isso, ao sabor dos vários acasos tecidos
entre a vontade de escrever esta ou aquela história
e as encomendas para as escrever para revistas ou jornais.
O próprio o confessa na edição portuguesa
da Relógio D'Água, em 1994: " (...) entre todos
os livros que tenho vindo a escrever e a publicar desde 1983
havia um que era escrito lenta e invisivelmente (...) um livro
de contos que começava e se concluiu a si próprio
com igual sigilo, com essa intensidade de alívio e de
anunciado princípio que o ponto final tem sempre." Pois
que se comece a descobrir a vasta obra de Antonio Muñoz
Molina, que entrou na Real Academia das Letras Espanholas apenas
aos 38 anos, a partir de "Nada do Outro Mundo".
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