"A Lista de Schindler", de Thomas Keneally

Por Sofia Loren

Thomas Keneally cruzou-se por acaso com Leopold Pfefferberg, em 1980. Entrou na sua loja de malas na Califórnia e saiu de lá com a história de Oskar Schindler que decidiu contar. Fê-lo com um grau de desenvolvimento só possível devido aos muitos que sobre ele quiseram falar. Entre estes, dezenas de "schindlerjuden", ou seus descendentes, como Pfefferberg, judeus de Schindler, salvos por ele de um destino que foi o de mais de seis milhões na Alemanha nazi. Keneally ganhou com "A Lista de Schindler" o Booker Prize em 1982.

Esta é pois a história de Schindler. A de um homem comum, com as suas singularidades, apanhado num período negro em que em poucos anos, dois ou três Verões, outros tantos Invernos, alguns homens, vão questionar o significado de ser-se humano. A guerra costuma fazer sair o que de mau há em cada um, esta não foi excepção. Mas o horror inimaginável tornado política oficial também fez com que um homem comum, que queria apenas viver com mais dinheiro e menos trabalho do que o pai, acabasse por fazer algo de extraordinário.

Keneally recua até à sua infância em busca de pistas inexistentes que ajudem a explicar "o seu impulso salvador". Oskar Schindler nasceu na cidade austríaca de Zwittau, em 1908, para passar a ser, dez anos depois, alemão dos Sudetas, as zonas de população alemã que integraram a Checoslováquia depois da I Guerra. Não há nada de extraordinário nos seus primeiros anos de vida, nada de muito diferente, por exemplo, da infância de Amon Goeth, que com oito meses de diferença, pertencente como ele a uma família católica, crescia e estudava em Viena, pela mesma altura.

Schindler e Goeth haveriam de se cruzar em Cracóvia, a jóia polaca para onde o primeiro partiu em 1939 para se tornar industrial, onde descobriu a fortuna e o horror, e o segundo chegou em 1943, como oficial das SS, com a missão suprema de "transformar num boato" mais de sete séculos de uma Cracóvia judia. Nesses últimos meses do sonho de império puro, o industrial e o carrasco beberam juntos, fumaram juntos, dançaram juntos, um tentou perceber o outro até isso ser possível, o outro nunca entendeu as motivações do industrial. No fim da guerra, um foi identificado pelas vítimas e enforcado; o outro foi considerado pelas mesmas vítimas "um justo".

Schindler fundou a fábrica de utensílios de cozinha Emalia para enriquecer com a guerra. Nela empregou entre 1939 e 1944 muitas centenas de judeus. Eram a sua força de trabalho, empregados especializados, mesmo que não o fossem, não deixavam de ser escravos. Pensou, durante algum tempo, que bastava aos seus judeus e aos outros manterem-se saudáveis para chegarem ao fim da guerra vivos. Percebeu que não, depois percebeu que iam morrer todos e usou o que ganhara com eles para salvar alguns. Mais de mil. Schindler escreveu os seus nomes numa lista e deu-lhes vida. Alguns deles ajudaram a contar que o fez.

    
   

 
Thomas Keneally