"Sinais de Fogo", o Livro e o DVD
Esta Semana, com o PÚBLICO

A 3 de Março de 1965, Jorge de Sena confessou, numa carta a José-Augusto França: "Estou escrevendo um magno romance." Dois anos depois, noutra carta, desta vez dirigida a Luís Amaro, sobe a parada: "Desabou-me violentamente em cima o romance que estava quieto havia séculos."

Em Abril de 1968, quando a revista "O Tempo e o Modo" dedicou ao escritor um número especial (o nº 59), uma iniciativa de João Bénard da Costa, Jorge de Sena enviou quatro fragmentos do "magno romance" carimbando-os como "Aparição da Poesia".

No cânone da crítica literária portuguesa - de Eduardo Lourenço a Óscar Lopes/António José Saraiva, Alexandre Pinheiro Torres ou Jorge Fazenda Lourenço - "Sinais de Fogo" é um dos mais geniais romances da segunda metade do século XX português.

Lido como um retrato da geração de Sena (n. 1919, Lisboa - m. 1978, Santa Bárbara, EUA), ou como um texto de forte cariz autobiobiográfico e poético, como uma obra iniciática ao universo do amor e da libertinagem ou como denúncia da ascensão da ditadura de Salazar (a partir da Guerra Civil de Espanha), "Sinais de Fogo", precisamente por também ser uma obra aberta, é de leitura mais do que obrigatória.

No filme, o actor Diogo Infante é Jorge, o jovem que chega à Figueira da Foz para passar as férias de Verão em casa do tio Justino (Henrique Viana). Em 1936, a Guerra Civil espanhola estala na estereofonia - os rumores do apoio de Salazar aos fascistas espanhóis e a revolta silenciada dos jovens revolucionários portugueses ecoam pela vila.

Mas Jorge está alheado do mundo: a guerra civil não lhe interessa, nem as iniciativas revolucionárias do amigo Ramos (Marcantónio Del Carlo). É a paixão por Mercedes (Ruth Gabriel), a mulher que mudará a sua vida, que o move. Da disputa da rapariga com Almeida (Rogério Samora) nascerá o conflito que dá corpo à obra - e os sinais de fogo que ardem no coração de Jorge.

Livro e filme complementam-se abrindo leituras diferentes. Mas, sobretudo, revelam um autor maior da literatura e, em particular, da poesia portuguesa de todos os tempos: Jorge de Sena.