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“A Idade da Inocência”, de Edith Wharton
Este romance, que ganhou o prémio
Pulitzer em 1920, desenha com fina acidez os códigos
da elite nova-iorquina no final do século XIX. É
uma sociedade elegante, exclusiva, incomoda pelo regresso
da condessa Olenska, que se separou do marido na Europa e
traz consigo um perturbante sopro de independência.
Por Luís Miguel Viana
Este romance, que ganhou o prémio Pulitzer
em 1920, desenha com fina acidez os códigos da elite
nova-iorquina no final do século XIX. É uma
sociedade elegante, exclusiva, incomoda pelo regresso da condessa
Olenska, que se separou do marido na Europa e traz consigo
um perturbante sopro de independência.
Quando em 1993 Martin Scorsese apresentou a
sua adaptação ao cinema do romance de Edith
Wharton, foi muito claro sobre o conteúdo do filme
– “É sobre rituais tribais”, disse.
E não enganou: “A Idade da Inocência”
mergulha-nos numa sociedade organizada, civilizada, onde se
protegem mais os bons costumes do que a saúde, onde
se observam “as regras” e a exibição
das emoções é considerada imprópria.
É também a história de um amor que não
se consuma, da decisão nunca tomada de sair daquele
meio, da inércia que prende as pessoas aos padrões
em que foram educadas.
Edith Wharton nasceu em Janeiro de 1862, filha
de uma família de Nova Iorque com prestígio
e “dinheiro antigo”. Em 1885, aos 23 anos, casou
com Edward Wharton, um aristocrata de Boston vinte anos mais
velho que aceitou passar temporadas na vida agitada e cosmopolita
de Paris no virar do século. Edith compra um automóvel
e anda nele a “grandes velocidades” com um grupo
de amigos que incluia o escritor Henry James e, mais tarde,
Fitzgerald, Hemingway, Roosevelt ou Jean Cocteau. São
anos frenéticos em que atravessa 64 vezes o Atlântico.
Em 1905 publicou pela primeira vez um romance,
“A Casa da Alegria” (ed. Presença), a história
da degradação de uma mulher a quem a sociedade
não deixa sair do beco em que o seu casamento se transformara.
A história tinha alguma coisa a ver com ela, como se
percebeu mais tarde, uma vez que o seu casamento ia de mal
a pior. O marido parece que era uma nulidade em tudo, sexo
incluído. Em Edith 1909 arranja um amante; em 1911
decide estabelecer-se definitivamente em França; em
1913 divorcia-se.
Na I Guerra Mundial utiliza os seus conhecimentos
para obter permissão de se deslocar às linhas
da frente num “side-car” e, de regresso a Paris,
trabalha na Cruz Vermelha na assistência a refugiados.
Foi depois condecorada com a “Legion d’Honneur”
pelo estado francês. Após a Guerra Edith Wharton
só viaja uma única vez aos Estados Unidos. Morre
na França, em 1937.
A “Idade da Inocência”, o
seu romance mais conhecido, transporta-nos a uma sociedade
– Nova Iorque, no final do século XIX –
instalada na prosperidade e sofisticação da
alta burguesia, que defende o seu estatuto e códigos
mundanos. A chegada de Ellen Olenska, que se separara do marido
e regressa da Europa, perturba a sensibilidade educada de
Newland Archer, o noivo da bela May Welland, “esse produto
aterrador do sistema social a que ele pertencia e no qual
acreditava”. É um romance cheio de distância
e de sarcasmos implícitos sobre a hipocrisia, a perversão
social, a impotência perante os padrões de conduta.
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