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“Mulheres”,
de Charles Bukowski, amanhã na Colecção
Mil Folhas
Henry Chinaski é um escritor cinquentão
e alcoólico, a quem as mulheres não dão
descanso. Irónico, “Mulheres” narra episódios
da vida deste “alter-ego” de Bukowski
Marisa Torres da Silva
Cada mulher é diferente. Umas loiras,
outras morenas, outras ruivas. Umas mais sedutoras e provocantes,
outras mais ingénuas e discretas. Há muitas,
tantas – a reserva parece não ter fim, nenhum
homem consegue esgotar o lote. Quase todas bonitas, quase
todas terríveis. Henry Chinaski gosta que elas existam.
“Mulheres”, publicado
em 1978, descreve a vida deste “alcoólico que
se tornou escritor para poder ficar na cama até ao
meio-dia”: as bebedeiras, as ressacas permanentes,
os vómitos, as corridas de cavalo, as leituras nas
universidades, as festas, as cartas de admiradoras, as esperas
no aeroporto, os encontros sexuais, os dias seguintes, as
rupturas, as reconciliações. Mais cerveja,
mais sexo, mais mulheres.
O centro de todo este universo é
Henry Chinaski, um escritor de 50 anos, divorciado e com
uma filha ilegítima. Na altura em que se debate com
a concretização do seu primeiro romance, mais
de uma dezena de mulheres começam a rodear o seu
quotidiano, uma após outra. Lydia Vance é
a primeira das muitas que florescem pelo livro; a seguir
vem Lilly, depois April, Dee Dee, Mercedes, Joanna, Katherine,
Tammie, Cassie, Valerie... De onde surgem, muitas vezes
nem o próprio protagonista sabe responder.
Chinaski conhece-as, prova-as, explora-as,
descobre seres humanos. Combinação do melhor
e do pior. Depois de uma separação, encontra-se
com outras – o ciclo é interminável.
E o amor? “O amor só convém aos que
não são capazes de suportar essa sobrecarga
psíquica. É como tentar atravessar um caudal
de mijo com um caixote cheio de lixo às costas.”
Henry Chinaski, este homem com poucas ilusões
a seu próprio respeito – e que não hesita,
aliás, em deixar pistas sobre a sua decadência
física –, não é mais do que o
“alter-ego” de Charles Bukowski. Com efeito,
é tarefa árdua distinguir onde acaba Chinaski
e onde começa Bukowski. Esta personagem autobiográfica
está presente em alguns poemas e romances do autor
– já tinha aparecido em “Factotum”
(1975) –, bem como no filme “Barfly”,
de 1987, realizado por Barbet Schroeder e com argumento
do próprio Bukowski, com Mickey Rourke no papel de
Chinaski.
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