Tiragem de 100 mil exemplares
A Boneca de Luxo", de Truman Capote,
amanhã nas bancas
A ascensão e queda de Holly Golightly,
uma jovem actriz que parte para a grande cidade, assemelha-se
à própria biografia do autor.
"Breakfast at Tiffany's", título
original de "A Boneca de Luxo", publicado pela primeira
vez em 1958, poderia ter sido escrito hoje. Holly Golightly,
a personagem principal, persiste no meio artístico
norte-americano, 44 anos depois da publicação
do livro. Num dos romances mais apreciados de Truman Capote,
o mestre do "novo jornalismo" faz o (auto) retrato
da artista provinciana, viciada, boémia e mundana,
que procura o luxo e a luxúria sem renegar os valores
tradicionais da província.
O nome Holly - abreviatura de Hollyday - metaforiza
a própria viagem em direcção ao estrelado
e a forma desprendida como a actriz de 21 anos, natural de
Tulip, no Texas, acaba por encarar a vida social e profissional
em Nova Iorque.
"Sabia perfeitamente que nunca viria a
ser uma estrela de cinema. É muito difícil;
e, se formos inteligentes, é demasiado humilhante",
explica Holly ao vizinho e escritor amador, que narra a história.
"Não é que me importasse de ser rica e
famosa. Isso faz parte dos meus planos, e um dia destes hei-de
lá chegar; mas quando isso acontecer, quero arrastar
o meu ego atrás de mim. Quero continuar a ser eu quando
acordar uma bela manhã para ir tomar o pequeno almoço
ao Tiffany's."
Ainda que casada e descasada por dinheiro "com
milionários de 24 quilates", o narrador conta-nos
que Holly não resistia a cantar, quando a nostalgia
do campo aparecia, "canções vadias com
palavras que lembravam pinhais e pradarias". Era, no
fundo, um "cavalo selvagem" aspirante a "puro
sangue".
O Tiffany's, salão fino de Manhattan,
sendo um cenário lateral do enredo, tem uma carga simbólica
importante (que torna discutível a tradução
do título para português). É ali que Holly
cura as doenças da alma que a torturam como "um
ferro em brasa" (estado de ansiedade diferente da "telha",
uma vez que esta sucede "porque se fica gordo ou às
vezes porque a chuva lá fora nunca mais pára").
"Apanhar um táxi e ir ao Tiffany's"
é, portanto, melhor que o brandy, melhor que a marijuana,
outros dos "ansiolíticos" experimentados
pela jovem actriz. "Não há nada de realmente
terrível que nos possa acontecer ali, com aqueles homens
de fatos janotas e o cheiro fantástico da prata e das
carteiras de crocodilo", justifica a personagem.
A "Boneca de Luxo" é, assim,
uma história de amor, de desilusões, em que
Truman Capote revela o ambiente "jet set" de que
ele próprio viria a ser, simultaneamente, um membro
destacado e o seu mais verrinoso crítico. O romance
originaria o filme homónimo realizado por Blake Edwards,
com Audrey Hepburn no principal papel.
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