Thomas Mann
De Burguês de Lübeck
a Cidadão dos EUA
Luís
Miguel Queirós
Thomas Mann nasce em 1875 na cidade livre de
Lübeck, que, como Hamburgo e Bremen, mantinha a sua soberania
no interior do II Reich alemão. O pai era um próspero
comerciante, que veio a ocupar vários cargos públicos,
e a mãe, Júlia Silva-Bruhns, nascida em plena
floresta amazónica, era filha de um alemão radicado
no Brasil e de uma brasileira de origem portuguesa. Thomas
é o segundo filho. O mais velho, Heinrich, virá
também a ser um escritor de talento. Seguem-se duas
irmãs, Júlia e Carla - ambas irão suicidar-se
- e um irmão, Viktor Mann, autor da crónica
familiar "Wir Waren Fünf" ("Éramos
Cinco").
O pai morre em 1891, deixando a Thomas o suficiente
para lhe assegurar uma razoável autonomia financeira.
A família muda-se para Munique e, após trabalhar
efemeramente numa seguradora, Thomas, animado pela recepção
crítica ao primeiro conto que publica, numa revista,
decide, aos 20 anos, tornar-se escritor a tempo inteiro. Nesse
final do século XIX escreve, ele próprio, diversas
recensões de livros, que revelam a sua adesão
às teses pan-germanistas e ao anti-semitismo. Em 1898,
publica uma primeira recolha de novelas curtas, à qual
se seguirá, em 1901, o romance de estreia: "Os
Buddenbrooks".
Aos trinta anos, em 1905, casa com Katharina
Pringsheim. Alguns dos seis filhos do casal tornar-se-ão,
também, escritores. Nos anos seguintes, Thomas Mann
publica o romance "Sua Alteza Real" (1909) e "Morte
em Veneza". Quando estala a Primeira Guerra Mundial,
apoia expressamente a política alemã, o que
o leva a um corte de relações com o irmão,
Heinrich, que se pronunciara publicamente contra a guerra.
Farão as pazes em 1922, quando Thomas evoluíra
já para posições democráticas
e liberais, que, mais tarde, o aproximam dos ideais socialistas.
Nesse mesmo ano, o escritor publica "As Confissões
de Felix Krull" e, em 1924, é editado o romance
que muitos consideram a sua obra-prima: "A Montanha Mágica".
Recebe o Prémio Nobel da Literatura em 1929 e, nos
anos seguintes, quando se inicia a ascensão do movimento
nazi, redige diversos apelos contra o fanatismo fascista.
Em Fevereiro de 1933, um mês após
a nomeação de Hitler como chanceler do Reich,
deixa o país para um ciclo de palestras em vários
países europeus, a pretexto do 50º aniversário
da morte de Wagner. O seu ensaio "O Sofrimento e a Grandeza
de Richard Wagner" é de tal modo mal recebido
na Alemanha, com campanhas de protesto promovidas nos jornais
- entre os detractores contava-se o compositor Richard Strauss
-, que Thomas Mann decide não regressar ao país
e radica-se na Suíça, onde permanece durante
cinco anos. Ainda em 1933, publica o primeiro volume da tetralogia
"José e os Seus Irmãos", cujo último
volume só sairá em 1943, quando o escritor já
tinha trocado a Suíça pelos Estados Unidos,
para onde emigrou em 1938. Adquire a cidadania americana em
1944 e só voltará a visitar a Alemanha em 1949.
Um ano trágico para o romancista, marcado pelo suicídio
do seu filho Klaus e a morte do seu irmão mais novo,
Viktor. E, logo no ano seguinte, morre Heinrich Mann.
Nos Estados Unidos, Thomas Mann apoia empenhadamente
a política do "new deal" do presidente Franklin
D. Roosevelt e é com amargura que, após a sua
morte, assiste ao início do macartismo.
Desde a sua chegada aos Estados Unidos, em
1938, até à sua morte, em Zurique, em 1955,
publica ainda, além de várias narrativas breves
e de um importante conjunto de ensaios, os romances "Lotte
em Weimar" (1939), "Doutor Fausto" (1947) e
"O Eleito" (1951).
|