Este livro deu um
filme
Atracção
Fatal
Nuno Franco
"Aquele que contempla a beleza
está condenado a morrer", escrevia Platão.
Pode ser este igualmente o epitáfio para "Morte
em Veneza", a adaptação de Luchino Visconti
da obra de Thomas Mann: o encontro com a morte aquando do
confronto com a beleza (a da juventude, mas também
da vida nela contida). Se é certo que há muito
se tinham separado as águas em relação
às ambições estéticas do realizador
aristocrata italiano - na ligação ao neo-realismo,
patente até à ruptura introduzida por "Sentimento"
- "Morte em Veneza", de 1971, é a obra onde
essas premissas, as de um certo decadentismo, são levadas
mais longe, constituindo para muitos o seu apogeu como cineasta.
Numa Veneza infestada pelo perigo da contaminação,
pelo calor, há a aproximação entre dois
olhares de dois mundos antagónicos - o de Gustav von
Aschenbach (transformado por Visconti em músico, e
personagem, tal como em Mann, claramente decalcado na sublimação
esteta do sinfonista Gustav Mahler) e do efebo Tadzio, que
se encontram numa comunicação para além
das palavras, feita de olhares cúmplices. Filme espectral,
banhado pelas cores saturadas e melancólicas da laguna
veneziana, é uma obra que joga nos silêncios,
mas também nos "flashbacks" que explicam
a atracção de Aschenbach pelo jovem Tadzio.
Destaque para a magistral música de Mahler (sobretudo
para o "Adagietto" da Quinta Sinfonia no derradeiro
momento da morte) assim como para as prestações
maiores de Dirk Bogarde (como Aschenbach e naquele que é
um dos papéis maiores da sua carreira), de Silvana
Mangano e Björn Andresen (no papel de Tadzio).
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