Perfil
"A
história da minha vida não existe"
Marguerite
Duras - o pseudónimo do seu verdadeiro nome, Marguerite
Donnadieu - nasceu pouco antes do eclodir da I Guerra Mundial,
a 4 de Abril de 1914, em Gia Dinh, na Indochina. Passou a
infância e a adolescência nessa antiga colónia
francesa, sempre fascinada pela figura da mãe e assombrada
pela imagem do irmão mais velho, Pierre.
Aos dezoito anos, viaja até Paris, onde
se dedica ao estudo do Direito, Matemática e Ciência
Política. Em 1943, publica o seu primeiro romance,
"Les Impudents", no mesmo ano em que entra no núcleo
de acção de François Mitterrand, na altura
o chefe da resistência Morland. Sete anos depois, o
livro "Uma Barragem Contra o Pacífico" coloca
Duras na linha da frente para o prestigiado prémio
literário Goncourt. Acaba por não o ganhar.
No entanto, o galardão chega-lhe às mãos
em 1984, aquando da publicação de "O Amante",
o seu mais mediático romance, adaptado ao cinema pelo
realizador francês Jean-Jacques Annaud, em 1991. Duras
não gostou e cortou definitivamente as estreitas relações
que, até então, mantinha com o mundo cinematográfico
- com efeito, o seu nome ficou para sempre associado a um
filme de referência, "India Song", que realizou
em 1975.
Os seus ataques de mau génio, bem como
o seu radicalismo político - ao aderir a movimentos
feministas ou quando refere que o lançamento de bombas
atómicas sobre os Estados Unidos seria a única
hipótese de pôr termo ao sofrimento dos vietnamitas
-, eram sobejamente conhecidos. Contudo, soube criar meticulosamente
a sua lenda, construindo um universo próprio, misturando
realidade e ficção.
Em 1995, o ano que precedeu a sua morte, Duras
estava consciente de que a sua vida tinha chegado ao fim,
depois dos seus sucessivos comas etílicos e do deambular
eterno pelos labirintos da solidão. "Creio que
terminou. Que a minha vida acabou. Já não sou
nada. Tornei-me completamente assustadora. Já não
me aguento. Vem depressa. Já não tenho boca,
rosto." Morre em Paris, a 3 de Março de 1996,
aos 81 anos de idade.
Mas nunca gostou que contassem a sua
vida. Porque, como disse um dia: "A história da
minha vida não existe. Isso não existe. Nunca
há centro. Nem caminho, nem linha. Há vastas
passagens em que se insinua que houve alguém, mas é
certo que não houve ninguém." M.T.S.
|