Se "O Jardim do Éden" fala
de uma relação a três muito semelhante
àquela por que Hemingway passou, então não
é despropositado falar das mulheres na vida do Nobel
da Literatura. Com 21 anos, conheceu Elizabeth Hadley Richardson,
oito anos mais velha. Hadley, como ele lhe chamava, tinha
ido de Chicago para St. Louis recuperar da morte da mãe
e encontrou em festas um rapaz que os amigos tratavam por
muitos nomes - Ernie, Nesto, Oinbones, Wemmedge, Hemmy,
Stein, Hemingstein. É assim que conta o escritor
britânico Anthony Burgess na sua curta biografia de
Hemingway. Apaixonaram-se e casaram em 1921. Destino: França.
Era o sítio certo para um escritor. Um filho, Bumby,
nasceu pouco depois.
Verão de 1926: ao sol da Côte
d'Azur ou nas "fiestas" de Pamplona, os Hemingway
partilham emoções com um casal amigo: os Murphy.
E, pelo meio, surge Pauline Pfeiffer, que tinha sido editora
de moda da Vogue e parecia, garantem, saída das páginas
da revista. Hadley e Pauline são amigas. A 'petite'
Pauline confessa o seu amor por Hemingway. Ele responde
que também a ama. Hadley não faz drama: se
ele e Pauline concordassem em separar-se por cem dias e
se no fim ainda se amassem, ela concedia-lhe o divórcio.
Os cem dias passaram, o divórcio seguiu-se; ele,
apesar de Pauline, nunca deixou de pensar que tinha destruído
o casamento, repetia a todos que era um filho da puta. "Chorou
como uma criança quando Hadley determinou a divisão
da mobília", escreveu Burgess.
Em 1936, nos Estados Unidos, Hemingway prepara-se
para partir para Espanha, onde estalara a Guerra Civil.
Pauline é contra, tem um presságio mau. Provavelmente
não o da morte do marido, mas o da morte do casamento.
É ainda na Florida que ele encontra Martha Gellhorn,
uma das mais extraordinárias repórteres de
guerra do século XX (sem dúvida muito melhor
do que Hemingway neste campo). É já em Espanha,
no meio do horror, que se envolvem. Digamos que, no intervalo
das reportagens de guerra, ele era o primeiro amante dela
e ela o primeiro amante dele, mas que não havia exclusividade.
Ela era casada. A relação, pública,
durou anos e era quase sempre tumultuosa, mas ainda assim
casaram em 1940. Hemingway tinha ciúmes do trabalho
de Martha Gellhorn, que inclusive desembarcou na Normandia,
na Segunda Guerra Mundial, antes dele.
Nesse ano, 1944, em Londres, ele conheceu
Mary Welsh, jornalista do "Daily Express" casada
com um colega do "Daily Mail". O tempo desse encontro
amoroso foi também o do desencontro final com Martha.
Hemingway está presente na libertação
de Paris. Instala-se no Ritz e recebe quem o vai visitar
por entre champanhe e conhaque. Uma das primeiras visitas
é a da Mary Welsh. "O quarto 31 do Ritz é
consagrado às alegrias do amor pré-marital
com Mary, breve mas apaixonado, acompanhado por champanhe
Lanson Brut" (ainda Burgess). Casam em 1946. Ela será
a quarta e última senhora Hemingway.
Em 2 de Julho de 1961, quando ele,
doente e psicótico, se matou de manhã muito
cedo, na entrada da casa de Ketchum, Idaho, ela estava lá
dentro, a dormir.