O jardim do Éden
Ernest Hemingway




 

Terça-feira, 25 de Junho de 2002
"O Jardim do Éden", de Ernest Hemingway, Amanhã nas Bancas
Por João Carlos Silva

Tiragem de 98 mil exemplares

Se é quarta-feira, é dia do livro no PÚBLICO. Com a maior tiragem desde "O Nome da Rosa", de Umberto Eco, "O Jardim do Éden" é o sexto livro da colecção Mil Folhas. Ernest Hemingway, obra póstuma.

Ernest Hemingway falou de suicídio durante toda a vida. Por fim matou-se mesmo, em 1961. Deixou material por publicar. Imenso. "O Jardim do Éden" foi a segunda obra póstuma e só surgiu ao público 25 anos depois. Se hoje ressuscitasse, o escritor norte-americano dificilmente saberia que livro era este. Não quer dizer que não gostasse - a "O Jardim do Éden" não faltaram, desde a edição até hoje, êxito de público e elogios de críticos, a par com polémica q.b.. Quer dizer que o autor teria dificuldade em reconhecê-lo.

Hemingway terá dedicado a este livro mais tempo de escrita do que a qualquer outro. Na verdade, começou a trabalhar nele em 1946 e embora tenho escrito a maior parte no ano e meio seguinte, continuava a cortar, a emendar e a acrescentar no ano da morte. Quinze anos de trabalho, portanto. A fazer fé nos números mais pormenorizados, revelados aquando da publicação inicial, deixou escritos 48 capítulos com um total de 200 mil palavras. O que foi editado tem 30 capítulos, curtinhos, e um total de 70 mil palavras.

Este "O Jardim do Éden" que temos à nossa disposição é portanto cerca de um terço do que ele deixou escrito. Até é comum que obras póstumas sejam editadas, despojadas de gorduras, arranjadas, mas esta é seguramente, por qualquer padrão, uma das maiores intervenções do género jamais realizadas.

Quem meteu ombros à tarefa e assumiu com coragem os cortes foi Tom Jenks. Com coragem e com o medo de que, no momento da apresentação pública, o livro fosse considerado mais dele do que de Hemingway. Na época, as justificações éticas e literárias de Jenks foram muitas. "Cortei umas coisas, rearranjei outras, mas não acrescentei nada, não reescrevi nada", garantiu. Ou: "Só fiz aquilo que pensei que Hemingway teria feito".

O resultado foi o que ele tinha prometido: "um Hemingway novo e sensível". Porque distante da imagem do macho caçador e marido-em-série que ele cultivou ao longo da vida.

Houve várias personagens deitadas fora por Jenks. Ficaram, em suma, três: David Bourne, escritor, Catherine Bourne, a mulher, casal em lua-de-mel, e Marita. David, Catherine, Marita. Un, deux, trois. Há uma "ménage à trois" neste Jardim do Éden. Muito sexo, sol, praia, vinhos e manjares. É isto a entrada no Paraíso ou o caminho mais rápido para ser expulso dele? A ler amanhã.