Tiragem de 100 mil exemplares
“Afirma Pereira”,de Antonio
Tabucchi
Por Rita Pimenta
Um homem muda. Apesar da idade e do regime.
Pereira é jornalista, vive em Lisboa e bebe limonada.
Salazar governa.
Afirma Tabucchi que este é um “romance
existencial”. Fala de um homem envelhecido que toma
consciência da sua passividade. Corria o Verão
de 1938 e Pereira, alheio à realidade política
da época (ditadura salazarista, guerra civil espanhola
e fascismo na Europa), prossegue impávido
É viúvo, dirige a página
cultural — em que é o único redactor —
de um diário vespertino, “Lisboa”, e fala
com a fotografia da mulher. Menu exclusivo: omolete e limonada.
“Afirma Pereira” foi escrito em
1993 e mereceu dois prémios literários italianos
no ano seguinte, Via Reggio e Campiello, e o prémio
internacional Jean Monet em 1995.
Sendo indiscutivelmente um romance político,
a narrativa de Tabucchi não assume um tom panfletário
e prende com facilidade a atenção do leitor,
pois é-lhe apresentada como uma espécie de testemunho
do protagonista, onde a expressão “afirma Pereira”
se vai repetindo.
São quatro as personagens que vão
induzir a transformação do católico jornalista:
dois anti-salazaristas militantes (Monteiro Rossi e a namorada,
Marta), um padre (António) e um médico (doutor
Cardoso). O protagonista acabará por escrever um artigo
de denúncia que transforma o seu futuro. E assim se
afirma Pereira.
Embora no momento da criação
da obra a direita e Berlusconi ainda não estivessem
no poder, Antonio Tabucchi apercebiase já do regresso
dos nacionalismos, da xenofobia e do racismo. O romance retrataria
assim uma época (1938-43) cujo ambiente teria alguns
pontos de contacto com o que se vive na Europa contemporânea
(salvaguardadas as devidas diferenças), explicava o
autor por alturas do lançamento do livro.
Antonio Tabucchi, nascido em Pisa em 1943,
Itália, conhece Portugal desde os 22 anos e considera-o
o seu “país de adopção”.
Apaixonado pela obra de Fernando Pessoa, traduziu e dirigiu
a edição italiana dos textos do autor.
Para quem não tem memória de
ter vivido em ditadura, Tabucchi dá a conhecer através
de “Afirma Pereira” a asfixia cultural que então
imperava, e o leitor congratula- se com o facto de sempre
ter podido respirar livremente.
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