"Pronto-a-Vestir",
de Robert Altman,
na Série Y
Por Vasco T. Menezes
Um romance de poesia em bruto
Uma multiplicidade de histórias giram à
volta da apresentação das colecções
de pronto-a-vestir num desfile de moda em Paris.
Entre os inúmeros intervenientes, encontramos:
Kitty Potter (Kim Basinger), uma repórter de TV de carregado
sotaque sulista e muito pouca perspicácia; um desprezível
fotógrafo (Stephen Rea) que passa o tempo divertindo-se a
humilhar as três poderosas editoras (Linda Hunt, Sally Kellerman
e Tracey Ullman) de revistas de moda - a "Vogue", a "Elle"
e a "Harper's Bazaar" - que o querem contratar; antigos
amantes de Roma (Sophia Loren e Marcello Mastroianni) que se voltam
a encontrar após vários anos de separação;
um designer arrogante (Richard E. Grant) que descobre que a modelo
preferida (nada mais, nada menos do que Ute Lemper) está
grávida (ainda por cima, de trigémeos); a amante (Anouk
Aimée) de um czar da moda (Jean-Pierre Cassel) cuja misteriosa
morte deixa todos satisfeitos; e dois jornalistas americanos (Tim
Robbins e Julia Roberts) que passam a maior parte do tempo na cama,
a beber e a fazer amor.
São apenas algumas das várias figuras
excêntricas que se passeiam por "Pronto-a-Vestir/Prêt-à-Porter"
(1994). É o regresso à Série Y de Robert Altman,
eterno rebelde idiossincrático e verdadeira instituição
do cinema americano. E se o primeiro filme, "Caminhos Perigosos"
(1998), fazia um pouco figura de corpo estranho na obra do veterano
autor, "Pronto-a-Vestir" é um exemplo puro do "Altman
touch": mais um dos seus típicos e irreverentes mosaicos,
através dos quais o realizador examina, com o humor sardónico
e o cinismo habituais, um determinado microcosmos. O alvo é
aqui o universo da moda, depois de terem sofrido o mesmo "tratamento"
a guerra e o exército ("MASH", 1970), a música
"country" e, por extensão, toda a América
("Nashville", 1975), a indústria de comida dietética
("HealtH", 1979), Hollywood ("O Jogador", 1992)
ou a classe média de L.A. ("Short Cuts", 1993).
Se o produto final não entra no grupo
dos Altmans mais deslumbrantes (e são muitos...), não
deixa de ser uma agradável e divertida comédia que
se vê com enorme prazer, para o que em grande parte contribui
um extraordinário elenco, que inclui ainda, entre papeis
importantes e participações fugazes, Lauren Bacall,
Harry Belafonte, Forest Whitaker, Danny Aiello, Lili Taylor, Rupert
Everett, Naomi Campbell, Cher ou Björk.
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